BASTIDORES LITERÁRIOS – QUANDO O LIVRO NÃO VENDE A CULPA É DE QUEM?


Por Gianpaolo Celli, Consultor do ALITERAÇÃO SERVIÇOS LITERÁRIOS

 

 

Há algum tempo saiu um artigo no Publishnews com o seguinte título:

‘Se o livro deu certo, o editorial acertou; se deu errado, a culpa é do comercial e do marketing’. Será?

Como a ideia aqui é comentar a respeito do mercado, e não simplesmente copiar, como sempre, SEGUE AQUI O LINK do artigo original.

 

Eu acho interessante que não só já ouvi como já comentei a respeito, mas de outro ponto de vista, também compartilhada por inúmeros editores, de que A CULPA DA VENDA SER BAIXA É DO AUTOR. Na realidade como escritor e sócio de uma editora pequena em que não só fui editor, mas também cuidei de marketing e vendas, eu nunca tive de lidar com esse problema – FALA SÉRIO! Muito comum no Brasil, tanto que é quase cultural, de empurrar a culpa para alguém ao invés de resolver o problema e tentar aprender com ele.

 

Como a autora do artigo do Publishnews comenta, é evidente que “a performance de um livro depende de toda a cadeia”. Afinal, se quando ele vende os louros devem ir do autor até o livreiro, não ficando só nas mãos do editor, como muitas vezes acontece, mas FALA SÉRIO! E quando o livro não vende em quem recai o erro?

Desconstruindo a equação de seu final sabemos que o leitor compra o livro porque este chamou sua atenção. Agora, não interessa se foi o gênero literário que o leitor gosta ou está na moda, se o estilo do autor que o deixou curioso, se a capa ou o título fizeram o livro se sobressair na prateleira da livraria, se o mercado está falando dessa obra… Na verdade eu poderia continuar com diversos exemplos, mas o importante aqui é o leitor só compra o livro que ele sabe que existe, e para isso é necessário que haja divulgação, marketing, uma parceria da editora tanto com as distribuidoras como com as livrarias, as diversas mídias que atualmente falam do mercado editorial e evidentemente um bom lançamento.

 

Mas e se o livro tem tudo isso e mesmo assim não vende em quem recai a culpa? Será que é no escritor, que não conseguiu passara a mensagem que queria? Que não conseguiu chamar a atenção leitor desde as primeiras páginas? Que escolheu um tema que não tem apelo? Que não conseguiu criar protagonistas chamativos o bastante?

Uma vez mais a lista poderia seguir quase indefinidamente com cada pequeno aspecto desde a produção literária até o dia, mês e ano em que o livro foi lançado, mas mesmo que todas as alternativas anteriores estiverem corretas (ou erradas) não seria responsabilidade do editor ler o original, ou como aquele artigo que eu comentei no início do ano, “reduzir o livro a um número”, analisá-lo de modo que, sem toda a poesia que existia no trabalho do editor a coisa de meio século, ele determine o lançamento acertando o alvo de maneira definitiva?

 

Ou será que, por sua função ser analisar o momento do mercado e ler o original de modo a tentar (e FALA SÉRIO! Aqui dou ênfase no TENTAR) descobrir se aquela história tem o que o público está buscando naquele determinado momento – a qual como eu comentei anteriormente aqui por tratar elementos humanos não é exata – parte da culpa pelo erro, portanto, não caberia ao editor?

Eu me recordo de haver comentado mais de uma vez a respeito de analises de mercado feitas em grandes feiras internacionais, que falavam de tendências do ano seguinte, as quais não aconteceram. Se considerarmos, Estas análises não passam de palpites a respeito de amostras e elementos de mercado, feitas por editores, que não deram certo.

 

Tudo isso, inclusive, me recorda uma analise que fiz sobre a questão do momento de lançamento de uma obra, em cima de um comentário de Ridley Scott sobre o sucesso de vendas do DVD do filme A Lenda, que ele dirigiu em 1985, após o lançamento de O Senhor dos Anéis, quinze anos depois. Numa entrevista ele disse que “é muito bom ver que esse sucesso, pois mostra que sou um diretor a frente de meu tempo, mas preferia que o filme houvesse sido um sucesso quando foi lançado, pois é isso que constrói a carreira de um diretor”.

Por que eu estou comentando a respeito dessa colocação? Porque algo semelhante aconteceu com um gênero que está fazendo muito sucesso atualmente, a Distopia, que recentemente levou diversos livros ao cinema. Há quase dez anos atrás, em 2008, foi lançado o filme Cidade das Sombras/City of Ember, também baseado num livro de distopia e, apesar de tudo, nem o filme se tornou um blockbuster, nem o livro um best-seller, como aconteceu com seus sucessores mais recentes.

 

Assim, a conclusão é que para que se aumente a possibilidade de sucesso de uma obra, todos os elementos da produção, do escritor, passando pelo leitor crítico, o editor, o revisor, o processo de produção, o marketing, o lançamento, a distribuição e as vendas, devem estar não só com o mesmo objetivo, mas também falando a mesma língua. E qual é ela? Você pode estar se perguntando. FALA SÉRIO! Evidentemente que a do público leitor!

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