[Bastidores Literários] É certo que o escritor não receba para participar de eventos?


bastidores maio 2018 1

Há algum tempo estava conversando com outros profissionais do meio e a conversa esbarrou num assunto interessante que resolvi trazer para cá: é certo que o escritor não receba para participar de eventos?

Sei que em parte isso acontece porque ao fazer isso eles estarão aparecendo e isso atrairia leitores para seus livros (ao menos é o que se ouve na maioria das vezes que recebemos um convite), mas FALA SÉRIO!, será que é o bastante? Até porque não é só isso, pois eu mesmo já recebi inúmeros pedidos de leitura crítica sem menção a pagamento, como se isso não fosse um trabalho. Na realidade há muito se vê isso acontecer com profissionais de diversas áreas, como ilustradores, por exemplo, dizendo que como o nome deles aparece na ilustração, que deveriam considerar fazer de graça “pela divulgação”.

Eu sei que existem eventos que pagam pela presença do escritor (na verdade já participei de alguns), mas mesmo a FLIP ou a Bienal do Livro, cujo investimento ultrapassa os R$ 40 milhões, na maioria das vezes os autores não recebem absolutamente nada para participar. E veja bem, quando comento a respeito, não estou falando de lançamentos, nos quais existe a divulgação de um produto em particular ligado ao nome do autor, mas muitas vezes palestras e apresentações que nada têm a ver com uma publicação e que, portanto, não irão influenciar diretamente na venda de livros, a qual ao menos poderia gerar um retorno de Direitos Autorais (normalmente 10% do preço de venda do livro), mesmo que ele só vá receber seis meses, às vezes até um ano após o evento.

Este, inclusive, é um assunto interessante, pois numa época de coaching e autoajuda, muitas vezes o palestrante não só recebe para participar de um evento, como lhe é liberado um espaço para venda de seus livros, muito diferente de quando um escritor investe seu tempo indo de graça a uma escola apresentar sua obra e termina por ouvir que apesar de haverem adorado a apresentação, caberá ao conselho da mesma decidir quando ou se eles irão adotar o livro.

E isso sem contar que quando uma editora chama um escritor internacional, independente se para o lançamento ou divulgação de seu livro, normalmente não só eles recebem translado, hospedagem e alimentação, como também um pagamento. A simples presença deles, afinal de contas, chamará a atenção do público, que gerará mais vendas.

FALA SÉRIO! Por que uma “cortesia” semelhante não é concedida aos autores nacionais? O trabalho é o mesmo. E afinal de contas, o livro mesmo no caso de uma ficção, é resultado de anos de investimento de tempo e pesquisa, que deveriam ser respeitados quando se convida um profissional. Como eu sempre digo: se os profissionais da área não respeitam o escritor, o que dirá da população, que segundo estudos, em sua grande maioria possui algum nível de analfabetismo funcional?

Sem contar que, como eu mesmo já comentei mais de uma vez: enquanto o brasileiro achar que R$ 40,00 por um livro é caro, mas o mesmo valor para ir ao cinema (ou R$ 2.000,00 por um celular) não é, nunca chegaremos ao chamado “primeiro mundo”. E FALA SÉRIO! Se uma parte da culpa recai sobre o povo e sobre as editoras e livrarias, nós escritores também devemos considerar que enquanto aceitarmos essa barganha de aparecer para tentar divulgar nosso trabalho ou conseguir espaço na mídia, essa situação não vai mudar.

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