[Bastidores literários] Editoras e escritores, os dois lados da moeda


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Recentemente eu estava conversando com um grupo de profissionais do mercado e o assunto era “por que as grandes editoras nacionais preferiam gastar mais comprando best-sellers ao invés de realmente apostar nos escritores nacionais?” Na realidade eu mesmo já critiquei inúmeras vezes os editores nacionais dizendo que eles estão mais compradores de direitos do que editores efetivamente. Que é como acontece lá fora, ou algumas vezes nas pequenas editoras aqui, em que os editores efetivamente buscam novos talentos, assim como procuram a falta de um gênero no mercado e buscam publicá-los.

FALA SÉRIO! Eu mesmo fiz isso diversas vezes quando estava na Tarja Editorial, com escritores nacionais e internacionais pouco conhecidos pelo público, assim como com temas inexistentes no mercado. Exemplo disso são a coletânea Steampunk – Histórias de um Passado Extraordinário, de 2009, o primeiro livro do gênero no Brasil; o livro Memórias Desmortas de Brás Cubas, de 2010, o primeiro Mash-up nacional; e em 2011 e 2013, quando lançamos respectivamente os livros Rei Rato, de China Mielvillé e Alquimia da Pedra, de Ekaterina Sedia, os quais além de as primeiras publicações de New Weird Fiction no Brasil, também foram os primeiros livros destes dois autores, indicados a diversos prêmios literários internacionais, no país. Ou seja, isso é ser editor!

Agora, toda história tem dois lados e talvez a causa, ou as causas disso acontecer sejam:

Primeiro, porque muitas vezes o autor nacional, em especial o que está começando, não se sente responsável por sua própria obra em quesitos como divulgação e marketing. Pode parecer estranho se você não faz parte do mercado, mas não sei por que no Brasil existe uma cultura de que o trabalho do escritor é só escrever, cabendo somente à editora fazer a divulgação e o marketing de sua obra. Na verdade o que se vê aqui é que o escritor ao invés de querer fazer uma carreira, que só começará se suas publicações venderem, ele só está interessado em colocar seu livro nas prateleiras.

Finalmente e mais importante porque o escritor nacional parece não sentir uma necessidade de parceria (ou lealdade) com a editora que originalmente o publicou. Já vi muitos casos em que autores ficam saltando de uma para outra assim que têm chance, publicando as vezes até uma série ou trilogia por duas ou três editoras diferentes. Isso, para quem não sabe, queima muito a figura do escritor, pois a editora termina sem saber se efetivamente pode investir nele, que poderá cair fora para uma diferente assim que tiver chance.

Tudo bem que a maioria dos editores nacionais, ao menos das grandes casas editorias, parece achar que ao publicar autores nacionais eles estão fazendo um favor, não um negócio. Assim, pouco fazem além de publicar, sem considerar que o livro de um escritor não tão conhecido pode não vender bem sem a devida divulgação. Mesmo assim nem todos os editores pensam deste modo e ver autores que você publicou não fazendo divulgação de suas obras (cujo objetivo, FALA SÉRIO!, seria só alavancar sua própria carreira) ou que você investiu numa publicação inicial buscando outras editoras sem nem apresentar o projeto à casa que inicialmente os colocou no mercado. Isso evidentemente termina por fazê-los considerar se realmente vale a pena investir no escritor nacional, dando preferência aos autores internacionais, que já vem com marketing e muitas vezes são negociados por agentes profissionais que buscarão a editora caso haja interesse de outra de publicação do autor, pois sabem o que é ser profissional.

O que fazer? FALA SÉRIO! É complicado dar uma resposta definitiva para a questão, em especial num mercado complexo como o nacional. Mesmo assim, como eu coloquei acima, existem editoras, normalmente pequenas, mas tem as que são meias e grandes, que já não pensam assim. Deste modo, CABE A CADA UM DE NÓS FAZER NOSSA PARTE PARA MELHORAR O MERCADO. Porque se dependermos dos outros para fazer a mudança, enquanto os demais países do mundo exportam best-sellers, continuaremos, como acontece com o Brasil que há muito recebeu e mantém o título de eterno “país do futuro”, um eterno “mercado do futuro”.

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