Lindsey Fitzharris – A medicina dos horrores #resenha @intrinseca


“Lister via em Pasteur, o homem que tinha proporcionado os meios pelos quais ele pudera compreender as sépsis  dos ferimentos. Pasteur, por sua vez, admirou-se com o progresso de Lister nesse assunto”.

Londres Vitoriana, final do século XIX. Entre o frio e a elegância, você se vê dando um passeio vespertino comum, quando – de maneira igualmente comum – você tropeça e cai no chão. Tenta levantar, mas não é possível; sua tíbia fora rompida. Dessa forma, deve-se esperar os policiais e médicos para que o levem a um hospital; lugar que, pelo menos em tese, deveria aliviar seu sofrimento. Em vez disso, no entanto, a próxima etapa do passeio é uma mesa de cirurgia no meio de um anfiteatro, onde cerram sua perna, assistidos por um uma infinidade de pessoas que que nada têm a ver com a medicina. Parece um filme de terror, e talvez seja mesmo; mas um filme real que teve protagonistas igualmente reais e que é o tema de Medicina dos Horrores, de Lindsey Fitzharris, lançado recentemente pela Intrínseca.

Em meio a tantos avanços sociais e tecnológicos, a medicina e, em particular, as cirurgias, eram quase pré-históricas até o século XIX. A falta de conhecimento era tamanha que as noções mais básicas de limpeza e assepsia eram simplesmente ignoradas. Pouco se sabia sobre bactérias e vírus – e vale observar que as diferenças entre ambos só foram descobertas no início do século XX – e era, de fato, mais provável que uma pessoa sobrevivesse a uma guerra do que a mesa de cirurgia. É difícil imaginar que você estivesse lendo esta resenha em 2020 se esse cenário não tivesse sido mudado por Joseph Lister. Auxiliado por sua esposa, Agnes, o doutor Lister foi o maior responsável por dar fim a essa Era de horrores, graças a sua aguçada curiosidade por analisar tecidos dissecados em seu microscópio. Tanto conhecimento acumulado – ainda mais em uma época que tão pouco se sabia nesse campo – elevou Lister a um alto patamar entre os profissionais da medicina, e o conduziu a uma condecoraçao vitoriana após tratar com sucesso a então Rainha da Inglaterra.

O cirurgião usando um avental imundo de sangue, raras vezes lavava as mãos ou instrumentos, e empestava o anfiteatro com o cheiro inconfundível de carne em putrefação, que os profissionais da área chamavam animadamente de ‘a boa e velha fedentina hospitalar’.

A autora Lindesy Fitzharris conhece a história, mas, acima de tudo, sabe como conta-la. Nada – nem uma condecoração da Rainha – pode dar maior dimensão sobre algum feito da história da medicina do que carregar a mão nos detalhes sobre o cenário que o antecedeu. Por isso, seu livro é caprichado em detalhes que farão corações e estomágos mais frágeis virem à boca. A “Era da Agonia”, como ela chama, é descrita em páginas quase tão horrendas quanto os tais anfiteatros que tantos horrores presenciaram; e tudo isso para conduzir o leitor à importância da revolução realizada pelo doutor Lister.    

Sim, Medicina dos Horrores “pinga” sangue, e a edição da Intrínseca colabora bastante para isso, com sua capa dura, papel diferenciado com laterais pintadas em preto, e detalhes da capa em vermelho; mas definitivamente não há como contar sobre uma revolução médica sem mergulhar nos horrores que vieram antes dela.

Capa, ficha técnica, sinopse

A medicina dos horrores – A História De Joseph Lister, O Homem Que Revolucionou O Apavorante Mundo Das Cirurgias Do Século XIX

Lindsey Fitzharris

ISBN: 9788551005224
Editora: Intrínseca
Número de páginas: 320
Encadernação: capa dura
Formato: 17 x 24 cm
Edição: 2019

Sinopse

Lindsey Fitzharris narra como era o chocante mundo da cirurgia do século XIX, que estava às vésperas de uma profunda transformação. A autora evoca os primeiros anfiteatros de operações — lugares abafados onde os procedimentos eram feitos diante de plateias lotadas — e cirurgiões pioneiros, cujo ofício era saudado não pela precisão, mas pela velocidade e pela força bruta, uma vez que não havia anestesia. Não à toa, os mais célebres cirurgiões da época eram capazes de amputar uma perna em menos de trinta segundos. Trabalhando sem luvas e sem qualquer cuidado com a higiene básica, esses profissionais, alheios à existência de micro-organismos, ficavam perplexos com as infecções pós-operatórias, o que mantinha as taxas de mortalidade implacavelmente elevadas.

É nesse cenário, em que se considerava mais provável um homem sobreviver à guerra do que ao hospital, que emerge a figura de Joseph Lister, um jovem médico que desvendaria esse enigma mortal e mudaria o curso da história. Concentrando-se no tumultuado período entre 1850 e 1875, a autora nos apresenta Lister e seus contemporâneos e nos conduz por imundas escolas de medicina, os sórdidos hospitais onde eles aprimoravam sua arte, as “casas da morte” onde estudavam anatomia e os cemitérios, que eles volta e meia invadiam para roubar cadáveres.

Chocante e revelador,Medicina dos horrores celebra o triunfo de um visionário, cuja busca para atribuir um caráter científico à medicina terminou por salvar milhões de vidas.

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