Por Gianpaolo Celli, consultor do ALITERAÇÃO SERVIÇOS EDITORIAIS
Um dia destes presenciei uma discussão a respeito de se existiria uma “idade máxima” para se tornar escritor. FALA SÉRIO! O assunto era aparentemente inócuo, tendo em vista que o autor Jose Saramago ainda escrevia e publicava com mais de 80 anos, mas me chamou atenção devido não só a quantidade de publicações de “novos autores”, mas também devido à busca das editoras de autores jovens que, segundo eles, devido à pouca idade, teriam mais facilidade de falar “a língua da juventude”, assim como porque para algumas publicações, como selo Jovens Autores da revista literária Granta, tem como regra que o escritor tenha menos de 40 anos para ser considerado “jovem”.
FALA SÉRIO! Nada contra a Granta, mas como a ideia desta coluna é discorrer de uma maneira objetiva e imparcial a respeito do meio literário/editorial, sem criticar de modo destrutivo, ou mesmo bajular, vamos analisar aqui o assunto mais a fundo. Isso, pois a ideia de que autores mais jovens, mesmo com menos experiência, poderiam falar aos jovens de uma maneira melhor do que profissionais com mais tempo de mercado é errada. Mesmo assim, como a ideia aqui não é afirmar por afirmar, mas sim apresentar fatos para que se possa analisar a colocação com uma base concreta, ao invés de simplesmente se especular, vamos aos dados:
1) Dan Brown, por exemplo, autor de inúmeros sucessos, como o Código da Vinci e Inferno, nasceu em 1964, tendo, portanto 50 anos.
2) Do mesmo modo George R.R. Martin, autor da famosa série Guerra dos Tronos, nasceu em 1948, ou seja, tem 66 anos.
Você pode até discutir que FALA SÉRIO! Ambos são autores de uma literatura mais adulta, e que no caso de literatura infanto-juvenil, um autor mais novo teria mais facilidade de comunicação. Mas será que tal fato é verdade? Bom, J.K. Rowling, autora da mundialmente famosa série Harry Potter, amada por crianças “de todas as idades”, nasceu em 1965, ou seja, tem 49 anos. Suzanne Collins, por sua vez, autora da série Jogos Vorazes é de 1962, tendo, portanto, 52 anos.
FALA SÉRIO! A ideia aqui não é afirmar que idade ou mais experiência sejam necessários para criar um bom livro. a autora da série Divergente, Verônica Roth, tem 26 anos. Ou seja, temos o publico se identificando com obras de autores desde os 20 até os 80 anos. Na verdade, tem público se identificando com clássicos escritos na década de 1950, como O Senhor das Moscas, na década de 1930, como O Hobbit, ou mesmo no século retrasado, como O Conde de Montecristo ou mesmo 20.000 Léguas Submarinas, as quais ainda fazem sucesso.
Ou seja, esses exemplos provam definitivamente que idade e qualidade na escrita não querem dizer absolutamente nada! Basta o autor estar conectado com seu público. E FALA SÉRIO! O editor ter a boa vontade e o profissionalismo de perceber isso e conseguir fazer seu trabalho de uma maneira séria, ao invés de achar que só porque o cara é moleque e tem um blog, que suas curtidas nas redes sociais magicamente irão se transformar em vendas, sem que para isso a editora tenha de fazer sua parte.
Uma coisa é escrever. E escrever não tem idade. Quem escreve fanfic que o diga. Mas, escrever mesmo, pra valer, quanto mais velho melhor. Mesmo a Veronica não teve a maturidade necessária pra imaginar melhor a sociedade – fez falta quando os roteiristas perguntaram sobre a Chicago que ela inventou – assim como ter criado uma personagem tão poderosa e ter acabado com ela de forma tola. Fora que a explicação do DNA foi clichê pra caramba. Não to falando que é ruim escrever quando mais novo. Mas, quanto mais crítico e conhecedor do mundo você for, melhor a obra se torna.