Por Gianpaolo Celli, consultor do ALITERAÇÃO SERVIÇOS EDITORIAIS
Como o final da série Jogos Vorazes já está sendo anunciada nos cinemas, resolvi trazer este tópico à tona. Eu mesmo já comentei, e muita gente no mercado literário nacional já percebeu, que um dos subgêneros da literatura fantástica que está ‘bombando’ atualmente é a distopia. Tanto isso é verdade que já existe mais de um romance (ou série) nacional com base na ideia.
FALA SÉRIO! Não notar isso é praticamente impossível. A não ser que você tenha voltado de alguma ilha deserta. São inúmeras séries literárias, filmes e até séries de TV usando a distopia, aquele inverso da utopia que imagina um futuro negro, baseado o que acontece no mundo de hoje, como a crise inicial de onde a narrativa começará. A pergunta, contudo, é: será que isso basta?
Analisar aquela que foi a primeira a surgir neste ‘boom’ e se tornou a mais famosa até o momento pode nos dizer muito a respeito desta e de outras questões. Numa recente entrevista, a autora Suzanne Collins comentou a respeito da inspiração que a fez escrever a série literária e cinematográfica Jogos Vorazes. A ideia básica, segundo ela, veio enquanto zapeava na TV e viu reality shows exibidos ao mesmo tempo em que imagens da Guerra do Iraque, e a mistura “começou a se confundir de um modo muito inquietante na minha cabeça”.
Só isso? Você pode perguntar.
FALA SÉRIO! É claro que não. Segundo a autora, ela se baseou muito em pesquisa histórica e mitológica para fundamentar seu universo. A referência aos jogos no Coliseu romano, por exemplo; ou o próprio nome da Panem, que vem da expressão latina ‘Panem et Circenses’, ou ‘Pão e Circo’, política adotada em Roma em que ao invés de resolver os problemas, se buscava alienar a população com alimentos e diversão. Na verdade toda cultura romana pode ser notada permeando a história, desde como os personagens da Capital se enfeitavam, uma característica típica da cultura clássica; até os nomes, como Caesar, Sêneca ou Cornelius. Mesmo a personagem principal, Katniss Everdeen, tem como base a deusa Greco-romana Diana. Devotada à caça, a deusa tinha como arma de preferência o arco e flecha, e também era conhecida por sua irascibilidade.
Mesmo a pobreza dos demais Distritos foi inspirada, segundo Suzanne, em fotografias de Dorothea Lange do período da Grande Depressão de 1930. Por que eu estou descrevendo tudo isso? FALA SÉRIO! Porque como já coloquei tanto em palestras como em cursos, o uso direto ou indireto de elementos históricos e mitológicos, seja na trama ou na ambientação da história, servem pra criar uma ligação com o leitor. A empatia com o universo, com os personagens e com a trama da história, são três coisas que lhe falam num nível bastante intimo e fazem com que o leitor termine por se apaixonar pela obra, se tornando um fã.
No exemplo de Jogos Vorazes, temos todos os elementos da cultura clássica fazendo com que tenhamos aquela coceira no fundo da mente dizendo “eu conheço isso”, ou seja, criando empatia. A mesma coisa se pode dizer da inspiração da pobreza dos demais Distritos na Grande Depressão. Ao menos para os estadosunidenses esse é um assunto ainda bastante real. E finalmente temos a protagonista, que além de passar pela famosa Jornada do Herói, foi inspirada numa figura claramente arquetípica, que FALA SÉRIO!, se conecta diretamente com o inconsciente do leitor.
Você pode estar pensando: “Discutir a respeito do que já está dando certo é simples, mas e o oposto?” Na verdade é o oposto a real causa de eu estar escrevendo. Um exemplo pode ser algum dos inúmeros originais que, apesar de bem escrito e de possuir uma boa história, o tema não chamou a atenção do editor e ele terminou na gaveta.
FALA SÉRIO! Outro exemplo é daquele livro que nunca ‘decolou’ simplesmente porque não possuía elementos que chamaram a atenção do leitor. Todo mundo conhece ao menos um livro assim. Aquele que você, notando o tema se perguntou: “Por que diabos alguém escreveu algo a respeito desse assunto?” Em especial se falando de literatura. Pense nisso quando estiver lendo ou escrevendo seu próximo livro.
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