Por Gianpaolo Celli, consultor do Aliteração Serviços Editoriais
Há algum tempo, durante a última FLIP, algumas matérias sobre o evento criticavam os escritores brasileiros. Este na verdade não é um assunto novo e, apesar de dizer que concordo com diversos argumentos apresentados, como por exemplo:
– A falta de profissionalização (a maioria dos escritores efetivamente não está pronta. FALA SÉRIO! Não é a toa que 95% dos originais são descartados pelas editoras);
– A inconstância na criação (não conseguem lançar um livro a cada um ou dois anos, como esperaria o mercado);
– A falta de noção de sua importância na divulgação e marketing de seu próprio livro (normalmente ele acha que sua função é escrever e só).
Eu também tenho que considerar que existe o outro lado da moeda. Por exemplo:
– A falta de empreendedorismo das editoras (FALA SÉRIO! Apesar de apostarem no projeto, as editoras não fazem divulgação, publicidade ou marketing dos livros nacionais);
– A falta dos livros nas livrarias (a maioria das pessoas que vai à livraria, mesmo quando busca algo, está aberto a descobrir novidades. Se o livro de um autor pouco conhecido não está lá, nunca era descoberto).
– A inexistência de um plano de “carreira” para o autor (no exterior, normalmente a editora dá um adiantamento sobre os direitos autorais ao autor, para que consiga escrever seu próximo livro com mais facilidade; sem isso, como se pode esperar que consiga, muitas vezes trabalhando e tendo de passar parte de seu tempo livro com a família, se focar em escrever?).
O interessante é que normalmente se analisa um dos lados se ignora o outro, como se com isso o resultado fosse mais válido, e não o inverso, como normalmente acontece. Um exemplo disso pôde ser visto na força que teve a trilogia de fantasia baseada na mitologia africana trazida ao Brasil pelos escravos ‘Deuses de Dois Mundos’ do publicitário carioca PJ Pereira, que figurou durante algum tempo figurou na lista dos dez livros de ficção mais vendidos em meados do ano passado.
FALA SÉRIO! Sei que, como já comentei, um exemplo não é tendência, mas exceção, e que algo do ano passado não necessariamente é válido para este ano, mas recentemente no blog do Aliteração (www.aliteracao.tk) apresentei uma tendência que está surgindo em nosso mercado de escritores que, ao invés de irem atrás das editoras, estão escrevendo em inglês em ferramentas online, como o Wattpad, e sendo descobertos grandes por editoras internacionais, só sendo publicados no Brasil após fazerem sucesso no exterior (o artigo se chama UM NOVO PARADIGMA NO MERCADO EDITORIAL).
Não podemos esquecer que, ao falarmos de best-sellers, a competição não é justa. Como coloquei acima e já falei algumas vezes antes, se as mesmas editoras nacionais que compram e colocam a venda estes best-sellers estrangeiros efetivamente apoiassem o escritor nacional, trabalhando juntos editora e autor eles conseguiriam atingir, como no exemplo assim ou em alguns outros, o sonho que é chegar à lista dos mais vendidos.
Vamos ver como?
Primeiro, no caso do exemplo o autor, apesar de haver se aventurado na literatura há pouco, está longe de ser um desconhecido. Com especialização em marketing, o autor não só é um publicitário bastante conhecido, com um Emmy e quatro Grand Prix do Festival de Cannes no currículo, como também foi um dos fundadores da Agência Click, a primeira especializada em marketing na internet do Brasil.
Depois, e FALA SÉRIO!, falo da importância deste aspecto sempre! Perceba que ele fez uma pesquisa bastante profunda sobre o tema antes de começar a escrever.
Finalmente houve um enorme cuidado da editora com a publicidade e o marketing do projeto, que não só antes de o primeiro livro ser publicado, organizou uma reunião entre o autor e alguns donos de redes de livrarias. FALA SÉRIO! A maioria das editoras não faz isso para os autores nacionais!
O autor, por sua vez, além de fazer o marketing dele nas redes sociais, usou seus contatos para vender os direitos para uma produtora multimídia, abrindo com isso a possibilidade de seu livro virar um filme, série e uma graphic novel.
Ou seja, apesar de, confirmando o que já venho dizendo há algum tempo sobre a falta de empreendedorismo das editoras e livrarias nacionais, nas palavras do próprio PJ Pereira: “A indústria do entretenimento é uma das mais medrosas que existem. Muitos livreiros também dão mais destaque para os livros estrangeiros”, FALA SÉRIO! Quando vemos profissionalismo em todos os aspectos do livro, de ambos os lados da equação e com ambos trabalhando em grupo, o sucesso não é um sonho tão distante quanto parece.
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