BASTIDORES LITERÁRIOS – Será Que o Preconceito É Só Para Com o Autor Nacional?


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Por Gianpaolo Celli, consultor do ALITERAÇÃO SERVIÇOS EDITORIAIS

Um dos pontos que vira e mexe comento é a respeito do preconceito existente no mercado para com o autor nacional. FALA SÉRIO! Repetindo algo que sempre comento em palestras e cursos: além das editoras e livrarias, o leitor normalmente critica os escritores nacionais, pois usa como comparação o material que regularmente chega às livrarias. Ou seja, compara-se toda uma produção aos poucos títulos, normalmente best-sellers que, devido à garantia de sucesso de vendas, tem seus direitos comprados pelas editoras brasileiras.

Mesmo assim, a diferença de tamanho e grau de maturidade de nosso mercado com o internacional faz com que aqui no Brasil figuras como o Agente Literário (e novamente já falei a respeito deste assunto), ou de cursos sérios de escrita profissional, sejam raros, o que deixa a maioria dos escritores, especialmente os novatos, a mercê de clichês narrativos os quais, ao invés de melhorarem, reduzem a qualidade de seus textos.

Exemplos existem inúmeros. Já há algum tempo o autor e editor norte americano Rob W. Hart disse numa ocasião se sentia cansado por ter de analisar originais “nada originais” e apresentou a seguinte lista do que deve ser evitado:

  • A “Síndrome Do Escolhido”, quando o protagonista é especial e toda ação da trama depende dele;
  • As “Referências Obscuras” que servem mais para provar que o autor conhece a obra de um ou mais autores do que para ajudar na história;
  • As “Mensagens Recebidas Nos Sonhos” ou “Personagens Convenientemente Desmaiando Quando A Trama Requer”, ambos normalmente terminando por soar falsas;
  • A “Contagem Regressiva No Roteiro”, quando os protagonistas precisam fazer algo até uma determinada data para que outra coisa aconteça (ou não aconteça);
  • Os “Avisos De Viradas No Enredo” que, se mal utilizados, só fazem demonstrar a falta de criatividade do escritor;
  • Os “Estereótipos Politicamente Corretos De Minorias”, que terminam mais mostrando um ranço de – preconceito do autor do que efetivamente o contrário;
  • A “Utilização De Pais Malvados Para Justificar O Vilão”, que novamente cai num modelo estereotipado da psicologia freudiana (sem contar o desconhecimento da mesma);
  • A técnica do “Personagem Se Descrevendo Diante Do Espelho”, já foi utilizada à exaustão;

E FALA SÉRIO! Finalmente, semelhante as “referências” o “Uso Do Sexo Na História Como Modo Do Realizar Fantasias Do Autor”, que é simplesmente patético! Quer ler o artigo original? Clique AQUI.

Agora, se o preconceito existe, isso acontece porque os livros foram efetivamente publicados. E FALA SÉRIO! Posso dizer que foram, pois eu mesmo já achei mais de um destes clichês em livros nacionais só lendo a contracapa e a orelha de alguns lançados nos últimos dois ou três anos.

E novamente repito: se o livro foi publicado, ele passou pelas mãos de um editor, que tinha obrigação de saber destes clichês, como seus colegas internacionais.

Então se existe preconceito para com o AUTOR nacional, também deveria para com o EDITOR, pois pesa somente sobre ele a responsabilidade final de uma publicação. E olha que os editores ainda falam que 95% do material recebido por eles não está pronto para o mercado…

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