Por Ginpaolo Celli, consultor do ALITERAÇÃO SERVIÇOS EDITORIAIS
Na semana passada comecei a comentar a respeito de uma recente viagem que fiz a Argentina, comparando um pouco o mercado literário dos dois países e de como alguns romances de nossos “hermanos” me fizeram repensar alguns “clichês da literatura fantástica” que vi em seus livros, como vejo em diversos nacionais… E FALA SÉRIO! Importados também. Best-sellers, inclusive. E será deles que continuarei falando.
O último clichê comentado semana passada foi o de “ambientar sua história no exterior”. Bom, pensando nele, outro me vem à cabeça, e este ligado à criação de mundos. Uma coisa que a maioria dos escritores de fantasia, em especial a medieval, adoram é criar seu próprio mundo. Isso acontece com tamanha frequência, que tal assunto virou um clichê.
“Por quê?”, você pode perguntar. Porque de nada adianta o escritor querer criar seu mundo e depois, sem a devida pesquisa de história, geografia e sociologia, fazê-lo uma cópia de nosso planeta, com uma história que também é cópia da nossa. Na realidade dizer “de nossa história” é ser simplista, pois sem a devida pesquisa se esquece de toda a história antiga e média do ocidente, como se ignora por completo a história do oriente.
FALA SÉRIO! Nossa história, e aqui falo da ocidental, o que quer dizer “Europa”, aconteceu como aconteceu devido a determinadas situações que, se não houverem existido no seu mundo fantástico, aquele momento ou detalhe “histórico” apresentado também não deveria acontecer.
Um exemplo banal disso pode ser visto num simples detalhe de ambientação. Por exemplo, fugindo de algo, ou buscando refúgio, os personagens terminam por entrar num cemitério. O que eles veem? Inúmeros túmulos com cruzes. Certo?
Errado! Como podem existem cruzes num mundo em que não há cristianismo? Em que nunca houve um Jesus Cristo crucificado? E olha que este é um exemplo simples. Existem inúmeros elementos ignorados de da história antiga Europeia que, se considerarmos a inexistência de uma Igreja Católica, não existirão num mundo de realidade fantástica a não ser se o escritor criar uma lógica para a existência delas.
Evidente que, se ao invés de descrever um pinheiro, o autor irá simplesmente nomeá-lo, assim como à Lua e ao Sol, ou ao menos se estes forem semelhantes ao nosso universo, e não houver diversas luas, ou se o planeta em questão circundar mais um Sol – FALA SÉRIO! Isso é algo que eu vivo mencionando. É uma ideia excelente criar um mundo inédito, cheio de características únicas que por si só deixarão a narrativa algo ímpar!
Outro clichê que vivo citando e aqui tem mais a ver com a construção dos livros do que da criação literária em si é a infame “Síndrome da Trilogia”. Costumo brincar que amaldiçoo Tolkien por haver dado a primeira ideia de trilogia aos amantes de literatura fantástica, mas a noção de trilogia parece ser uma maldição que ronda a literatura fantástica.
Por quê? Porque todos os grandes sucessos (como Jogos Vorazes, Divergente ou His Dark Materials, de Phillip Pullman) são trilogias (às vezes até series maiores, como Harry Potter ou Crônicas de Gelo e Fogo) e mesmo assim o mercado fala que não é algo a se apresentar às editoras, em especial se você for um escritor iniciante. Na realidade aqui eu terei de concordar com o mercado. Escreva uma história fechada antes de pensar numa série e uma série com histórias fechadas antes de pensar numa trilogia. Isso porque, como você ainda não é um profissional, o editor ficará com receio de publicar a primeira parte de uma história que pode não terminar dentro do tempo médio de mercado, que é de um a dois anos. E a razão disso é que os leitores tem receio de comprarem um livro que não sabem se conseguirão ler o segundo e o terceiro, preferindo comprar todos juntos.
Então, se for apresentar uma trilogia, não se esqueça de mostrar que já está trabalhando o segundo volume e já tem o terceiro estruturado, assim como dar uma ideia de quando o terá prontos. Porque FALA SÉRIO! Isso é ser profissional!
Eu ia falar de mais alguns clichês, mas os dois primeiros ficaram meio longos, então continuarei na semana que vêm. De qualquer maneira lembre-se que como escritor iniciante, que ainda é amador e quer se profissionalizar você deve pensar em evitar os clichês.
Exatamente Luiz, eu concordo com os críticos. No caso, se existe a possibilidade de apresentar a obra em 2 ou 3 volumes, no caso é uma opção melhor. Infelizmente ela cai em outro problema, que é o medo dos editores de trilogias.
Isso acontece porque as vezes o leitor tem receio de comprar um primeiro volume e gostar e não conseguir ler o final. Assim, sem considerar que se o primeiro volume não vender a editora não investirá num segundo, ele espera que ao menos o segundo esteja publicado para comprar o primeiro.
Se bem que no caso esse medo é menor, pois a série ou trilogia efetivamente já estará terminada, de modo que eles poderão já imaginar as capas e apresentá-las, diminuindo o receio do leitor. Porque no caso de trilogias, os autores normalmente entregam a primeira sem as demais prontas e editores temem que ele não consiga entregar as demais no prazo (normalmente de um ou dois anos, no máximo).
Um excelente exemplo do que deve ser feito é a série Harry Potter, que além de ter histórias fechadas em todos os livros, ela começou com volumes mais finos, aumentando junto com os fãs. Até porque um livro grande é mais caro e o leitor pode temer gastar dinheiro com ele e depois não gostar.
Bom dia. Mas nesse caso, o autor iniciante (não conhecido pela mídia) está dentro de um dilema. Apresentar para a editora o seu primeiro trabalho, com mais de 800 páginas (já li vários comentaristas/críticos dizendo que não é recomendável), ou apresentá-lo em 2 ou 3 volumes. O que fazer? Abraços