Por Gianpaolo Celli, consultor do ALITERAÇÃO SERVIÇOS EDITORIAIS
Agora, você pode estar se perguntando: “O que são reviravoltas e por que três são necessárias?” FALA SÉRIO! A pior coisa que pode acontecer numa história é ser previsível.
Lembra aqueles filmes de terror para adolescentes que ficaram famosos nos anos 1980 e 1990? Aqueles nos quais um grupo de jovens estava enfrentando algum vilão estranho e, sempre que um deles se separava do grupo, você pensava “Ih, esse vai morrer!” E não dava outra, ele morria! Mas você sempre sabia que sobraria um casal de protagonistas, que terminaria por virar o jogo e derrotar o vilão. Ou seja, quando a coisa virou moda perdeu a graça, porque o publico normalmente sabia o que ia acontecer e quando a coisa ia acontecer.
É exatamente para isso que servem as reviravoltas: para deixar a história emocionante. Deixar o leitor nas pontas dos pés, sem saber o que acontecerá em seguida. Sobre a quantidade, não é que devem haver três, mas sim que, para a história não ficar entediante, no mínimo duas são necessárias…
É claro que também não se pode exagerar. Um exemplo disso vi acontecer numa história em que uma personagem é dada como morta no meio e retornar no fim, pois arrancou um dente a sangue frio com um alicate só para enganar os demais personagens. FALA SÉRIO! Isso é total e completamente inverossímil, para não dizer absurdo. E pior, quando acontece o leitor normalmente tem a ideia de que foi passado pra trás, foi enganado, feito de trouxa. E como ninguém gosta disso, a ideia é não exagerar, ou ao menos tentar ser verossímil em suas reviravoltas.
Na verdade, FALA SÉRIO! Livros não são bolos para seguir uma receita. O que você deve conhecer, ou melhor, saber usar, são as ferramentas de escrita, para com elas criar algo original e inusitado. É como outra ferramenta, chamada de Cena e Sequência: a ideia aqui é cortar a cena antes do seu final, dando continuidade a outro foco da história e deixando com isso deixar o leitor curioso com o que acontecerá na sequência.
A ideia é ótima! Diversos escritores, na realidade, aliam esta ferramenta a um estilo de estruturação chamado “Jogo de Xadrez”, em que o foco da história e dividida entre o protagonista e o vilão, com um capítulo para cada (daí o nome, pois cada lado sempre faz uma jogada), de modo que o resultado da ação sempre ficará após o capítulo do adversário. O problema é que ficar fazendo isso durante toda a história pode cansar o leitor.
Outro exemplo (e olha que já disse a respeito disso mais de uma vez) é a famosa Jornada do Herói. Considerada o “monomito”, “a estrutura por trás de todas as histórias”, essa ferramenta de criação e estruturação não basta para que sua história seja boa. Quer dizer, você precisa acrescentar mais coisa além da Jornada, usando-a somente como uma base para sua história. Porque senão FALA SÉRIO!, o leitor vai terminar a leitura com aquela sensação de “é só isso?”
Ou seja: não basta conhecer as ferramentas, mas praticar com elas de modo, mesmo usando ferramentas padrão para 90% das histórias e mesmo assim se crie algo original, único.
Excelente exemplo, Logan!
Mas como eu disse, como todas as ferramentas, deve ser usada com cautela, para que o leitor não veja chegar o fim do capítulo e pense “pronto. Agora vem o corte!”
É como a Jornada do Herói. Todo escritor deve conhecê-la, mas não usá-la como uma receita de bolo, pois isso também pode deixar a história chata e o leitor entendiado.
Interessantíssima esta abordagem sobre a escrita. Todos deveriam lê-la. Terry Brooks, em seus livros da saga de “Shannara”, faz exatamente essas duas coisas, pelo menos no primeiro (A Espada de Shannara). Ele corta a ação, várias vezes em sua obra, no momento crucial, para mudar o cenário e a ação de outros personagens. Também faz a jornada do herói, um indivíduo aparentemente sem valor e sem significância, que no final é a chave para a solução do enigma e da vitória.
Muito bom, Gianpaolo!