Por Gianpaolo Celli, consultor do ALITERAÇÃO SERVIÇOS EDITORIAIS
E abrimos 2017 com um assunto que levanta muitas discussões. Pelo que tenho visto na imprensa, nas livrarias, e também pelas mensagens que temos recebido de clientes do Aliteração, parece que finalmente os escritores estão percebendo a mudança de paradigma que está acontecendo no mercado editorial.
Mas qual é ela?
Se você conversar com a maioria dos editores, e já tive a chance de ver tal percentagem numa publicação voltada ao mercado editorial, eles te dirão que 95% dos originais que recebem não estão efetivamente prontos para publicação (número tirado da publicação em questão).
O problema é, e já venho falando a respeito há algum tempo, que esta moeda também tem outro lado: FALA SÉRIO! A maioria dos editores nacionais também não está pronta para exercer as devidas funções do cargo. Em especial se o assunto é literatura.
Por que digo isso? FALA SÉRIO! Porque a função do editor não é, como acontece especialmente com as grandes editoras brasileiras, simplesmente verificar qual o best-seller internacional da vez, comprar seus direitos, traduzir e publicar no mercado nacional. Na verdade copiar tendências mundiais que estão estourando, como livros para colorir ou a publicação livros, em sua maioria feita por ghost writers, de vlogueiros com milhares de seguidores, não é muito melhor do que isso.
Evidente que analisar o que acontece no mercado internacional e tentar colocar a tendência aqui não é algo simples, tendo em que vista que nem todo mercado é igual, mas também está longe do escopo do que vem a ser a função de um editor, que vai desde a análise do mercado e escolha de originais até o desenvolvimento de campanhas de publicidade e marketing de modo a fazer, como acontece nas grandes casas editoriais lá fora, que um livro desconhecido se torne um best-seller mundial.
Assim, o que está começando a acontecer é um processo de migração de escritores nacionais tanto para plataformas que lhes dê visibilidade e crie um público, como o YouTube para os Vlogueiros, como para o mercado internacional… ou FALA SÉRIO! Ambos!
Se você procurar na mídia, desde o início do temos visto escritores que, muito antes de chegarem às prateleiras já são sucesso.
Como? Autopublicação! Mas FALA SÉRIO! Não da maneira tradicional, mandando produzir o livro físico em editoras por demanda para vender, mas publicando na internet, usando ferramentas como a Amazon, o Wattpad e as redes sociais.
Outro caso que chegou aos jornais foi de uma escritora carioca que, após sentir o gosto do fracasso, tamanha quantidade de recusas por parte das editoras brasileiras, foi à Feira do Livro de Frankfurt e seu livro logo foi aceito não por uma, mas por diversas editoras mundo afora em negociações com valores que, em reais, chegam a seis dígitos.
E se você acha que este é um caso à parte, pode pensar de novo, pois apesar de não tão conhecido pela grande mídia, já foi publicado inclusive (aqui no Brasil pela Galera): O Aprendiz, primeiro livro da trilogia Conjurador, de Taran Matharu (não se espante com o nome, ele é filho de uma brasileira com um indiano) foi originalmente publicado pela editora Feiwel & Friends em inglês após conseguir três milhões de leitores no Wattpad.
Se os conceitos-chave aqui são dois (meios de conseguir leitores e “em inglês”), os problemas também são dois. O primeiro é que se traduzir uma obra para sua língua natal (no Brasil a maioria dos casos é de inglês para português) já é muito caro, fazer o inverso (do português para outra língua, normalmente o inglês) é mais caro ainda. Considerando do que sei de minha época como editor sai mais barato publicar por conta do que traduzir sua obra para uma língua estrangeira.
Finalmente temos de considerar que o que chega no Brasil não é nem um décimo do que é produzido nos Estados Unidos. Na verdade nem é o que é melhor, mas simplesmente o que é mais vendido. Ou seja, existe muita coisa que não tem qualidade o bastante para passar do mercado dos Estados Unidos. Na verdade, como acontece aqui também muita coisa aqui, existem livros que, por não terem um grande apelo, nem passam de seus mercados locais. Então você pode até traduzir, mas isso não quererá dizer que irá conseguir alguém que se interesse lá fora, como não conseguiu no mercado nacional. FALA SÉRIO! Vi muita gente enviando material traduzido para feiras internacionais (há alguns anos, quando a literatura brasileira estava em evidencia) e mesmo assim não conseguiu interesse de editoras internacionais.
Assim, acredite sim em sua criação e tente fazê-la ultrapassar fronteiras, mas lembra dos 95% colocados no início do texto? Procure antes profissionais do meio literário/editorial para fazer como que seu livro fique pronto para a publicação, em sua língua natal antes de uma possível tradução.
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