Por Gianpaolo Celli, consultor do ALITERACAO SERVIÇOS LITERÁRIOS
Esta semana, numa pesquisa a respeito do mercado, achei não só algumas editoras com pedidos de texto para coletâneas como outras com material para vender (FALA SÉRIO! Ainda bem que eram e-books) que me fizeram lembrar não somente artigos passados, mas também um evento de Ficção Científica chamado Invisibilidades do qual participei anos atrás.
As coletâneas em questão iam de Contos de Fada a Folclore Brasileiro, passando por Super-Heróis, OVNIS e contos eróticos, algumas das quais, inclusive, iriam ser lançadas na Bienal deste ano (que para quem sabe é ótima para escritores renomados, mas nem tão boa para desconhecidos).
O problema em questão, o qual eu aprendi não só como escritor, mas ao ser editor na Tarja Editorial é que determinados assuntos por não se adequarem a publico algum, têm uma saída difícil. Ficções baseadas em discos-voadores, por exemplo, como as histórias baseadas em contos de fada ou mesmo espiritismo (só para colocar outro exemplo) tem uma procura baixa. Isso, pois quem gosta de Ficção Científica não acha que histórias OVNI se enquadram no gênero e quem gosta de histórias OVNIS busca relatos reais e não histórias de ficção. O mesmo acontece com espiritismo: quem gosta do assunto quer ler relatos psicografados e não de ficção inventada por um escritor.
O mesmo se pode dizer de super-heróis e contos de fada. No primeiro caso, pode se até dizer que, como aconteceu com a fantasia o cinema tenha trazido de volta o interesse pelo assunto, mas o fato das pessoas quererem assistir no cinema histórias do Batman, Capitão America, Homem de Ferro ou outros heróis com os quais eles cresceram lendo quadrinhos, não quer dizer que queiram ler um livro com histórias de super-heróis criados e escritos por desconhecidos. FALA SÉRIO! Na verdade o tiro pode, inclusive, sair pela culatra, com os autores sendo acusados de plágio ao aproximarem seus personagens ou suas histórias de algo que já exista e que eles mesmos desconheçam.
O caso dos contos de fada é semelhante. Sempre haverá gente que comentará que as histórias não passam de FANFIC (ficção escrita por fãs) tendo em vista que tanto o universo da história, como os personagens já existem no imaginário popular. E com o folclore brasileiro é pior! Porque além de existir pouca demanda do público pelo tema, quem se interessa quer saber sobre histórias reais do folclore e não em adaptações fictícias do mesmo.
FALA SÉRIO! Tudo isso me recorda o evento Invisibilidades, citado acima. Ele se chamava assim, pois seu tema, ficção científica, era praticamente invisível no mercado. E a questão era que a maioria se orgulhava disso, como se eles fossem parte de uma elite intelectual e que o leitor médio não gostasse do gênero simplesmente porque não o entendia.
Interessante, pois não só recentemente tivemos inúmeros filmes de FC fazendo sucesso no cinema, como a editora Aleph tem como seu carro chefe a Ficção Científica e tem crescido muito atualmente.
Na verdade eu tenho que dizer que sim, existem histórias de sucessos nacionais e internacionais da maioria dos gêneros citados acima. O ponto é que não é porque três ou quatro livros fazem sucesso que qualquer autor, mesmo em começo de carreira vá escrever a respeito e conseguir um resultado semelhante, em especial se falando de coletâneas de livros físicos, cuja pequena tiragem impede que os mesmos se tornem conhecidos pelo grande público (como eu mesmo já comentei em artigos anteriores).
FALA SÉRIO! O assunto, inclusive, me lembrou da página de uma revista de fantasia e ficção cientifica importada em que eles indicavam que apesar de nenhum tema ou enredo em particular seja execrado por eles, os seguintes eram DE DIFÍCIL VENDA. A lista é grande, mas dela tirarei alguns exemplos:
- Vampiros sexy, lobisomens devassos, bruxas malvadas ou crianças demoníacas;
- Histórias em que o clímax depende de intestino voando;
- Histórias com espadas falantes;
- Histórias em que viagens no tempo são tão fáceis como são em filmes ou séries de TV;
- Histórias baseadas em vestígios da mitologia judaico-cristã a fim de ser assustadoras (Caim e Abel são vampiros, o fim dos tempos está vindo, vinho da comunhão se transforma literalmente em sangue de Cristo e é HIV positivo);
- Histórias sobre crianças brincando em algum lugar e descobrindo qualquer coisa (um corpo, uma nave alienígena, Excalibur),
- Histórias sobre assuntos que recentemente saíram na revista Scientific American;
- Histórias sobre as aventuras de seu personagem RPG;
- E finalmente, histórias que acontecem num ambiente iconoclasta hippie e não convencional escritas por um escritor que claramente nunca esteve num destes.
Ou seja, FALA SÉRIO! O mercado editorial, em especial o nacional, não só é complicado como tem passado por mudanças que fazem que o que era interessante há alguns anos não necessariamente seja agora. Assim, você escritor tem de pensar três, quatro vezes antes de se colocar a escrever sobre um tema que não seja de fácil venda. Porque sem nome (e isso tem uma importância enorme no mercado, vide a onda dos vlogueiros) nem experiência de escrita, será muito complicado você tirar seu original da gaveta.
Oi Lucas,
Excelentes colocações! O problema é que quando eu falo destes temas, os mesmos estão sendo trabalhados como clichês. Quer dizer, ideias aparentemente geniais que diversos escritores novatos têm e que acham que essas os levarão ao estrelato. Como eu já disse em artigos, palestras e cursos, é mais fácil vermos publicado o livro de um escritor talentoso e que saiba escrever baseado numa ideia medíocre do que um baseado numa ideia extraordinária escrito por um autor medíocre.
Não é uma questão de existirem leitores para qualquer tema, mas de ideias batidas e livros mal escritos.Pegue o quinto item, por exemplo. Pense numa história de Jesus se tornando vampiro. É diferente de Código da Vinci, que só comenta que Jesus teve uma filha. Será que o tema não causará repulsa em diversos leitores? E pensando como editor, você vai querer isso para sua editora? Compreende?
Interessante sua colocação do artista plástico e da Madona, mas pintura é uma arte mais conceitual do que literatura. Não que o que você disse não seja verdade. Existem livros que levaram seus autores à fama porque pessoas famosas comentaram que estavam lendo. Se não me engano o exemplo de uma situação dessas aconteceu com o Tom Clancy. Um dos guarda-costas, do Reagan se não me engano, estava de férias numa cidadezinha e comprou um livro do autor por indicação do vendedor numa livraria local (na época ele ainda não era conhecido). Como ele gostou, então terminou comprando um exemplar extra para o presidente, que comentou que estava lendo um livro do autor com a imprensa. Daí o autor ficou famoso. Mas entende que além da sorte, do golpe de marketing, o livro tinha de ser bom e possuir um tema que agradasse não só o guarda-costas do presidente como o próprio presidente? Tom Clancy é um escritor de thrillers de espionagem, o que agradaria um presidente como o Reagan. Imagine se o guarda-costas comprasse uma fantasia ou uma FC? Será que a mesma coisa aconteceria?
A lista é realmente grande, mas acredito que tudo passa primeiro pelo público-alvo. Tem leitores de todas estas listas e com certeza o escritor poderá atender a esta necessidade.
Começar um livro pensando em vender e ficar milionário é algo que muitos escritores não deviam fazer. A escrita deveria ser primeiro um desabafo da alma, a fama, as vendas e afins é consequência.
A história pode ser um lixo, mas se agradar alguém famoso, vira um best seller. Lembro de um artista plástico do interior do Ceará que só tinha vendido três quadros todos a R$ 30,00 para uma tia. Ele, fã da Madona, pintou um quadro e deu um jeito dela receber. Ela gravou um vídeo dizendo que amou o quadro. Depois disso, um quadro dele hoje não sai por menos de R$ 3.000,00. A pintura dele não é ruim, pelo contrário, mas com uma ajuda dessas até minha filha de 04 anos se tornaria famosa.
Ps: Escritores, precisamos achar “as nossas Madonas.”