Por Gianpaolo Celli, consultor do ALITERAÇÃO SERVIÇOS EDITORIAIS
Semana passada eu comentei de maneira crítica a respeito de um livro sobre Escrita Criativa. Comentei, contudo, que não é porque para mim este tipo de livro teórico sobre escrita não serviu, que não pode servir para outros, assim como que esse foi o caso de um livro e que, portanto, generalizar seria um erro.
Um erro até porque outros livros que li são bastante interessantes, apresentando modos de trabalhar, dando dicas e mostrando elementos que, evidentemente que você poderia descobrir lendo analiticamente outros livros de ficção, mas que apresentados de modo explicativo, a vida do escritor será mais simples.
É como a estrutura da Jornada do Herói, por exemplo.
O problema é que do mesmo modo que um livro que ensina um esporte, ou um livro que ensina artes marciais não irá ensinar nada se você não treinar, o mesmo acontece com um livro de escrita. Os bons podem até mostrar o caminho, mas FALA SÉRIO! Caberá a você caminhar. Ou ainda eles mostraram ‘atalhos’, que você deverá usar durante sua ‘caminhada’.
Na realidade a questão é até um pouco mais profunda, porque diferente de fazer um bolo, em que basta seguir uma receita, escrever uma história demanda sempre elementos diferentes. Os personagens nunca serão os mesmos, a ambientação será diferente, assim como a estrutura, que dependerá do gênero. Então não adianta simplesmente achar que copiar a Jornada do Herói para que todas as suas histórias sejam boas.
Na verdade o que acontecerá é o inverso, suas histórias se tornarão obvias. Quer dizer, imagine que eu diga que você deve apresentar os personagens sempre no primeiro capítulo, fazer algo acontecer para dar inicio à trama sempre no terceiro, colocar uma reviravolta na história sempre no quinto, o clímax sempre no sétimo e terminar no nono com a depuração dos personagens após seu retorno ao cotidiano.
Você escreve o primeiro livro assim, depois o segundo, o terceiro. Quando chegar ao quarto livro seus leitores já saberão exatamente quando tudo acontecerá. FALA SÉRIO! Será que eles ficarão surpresos ou entediados?
Assim, os livros de escrita servem para que você aprenda com mais facilidade, mas efetivamente você só vai fazer isso se começar a treinar (lembra o que eu comentei sobre a autoajuda? O livro não resolverá seu problema, especialmente se você só lê-lo).
Inclusive, será que todos os artifícios que o livro de escrita está ensinando servem para você? Porque elementos essenciais para um gênero literário podem não ser para outro. Na verdade existem elementos que podem ser essenciais para um escritor e inúteis para os demais.
O ponto aqui é que você deve testar sim, treinar muito e o mais importante: buscar profissionais para descobrir em quais elementos você está bem e em quais precisa melhorar. Porque no fundo escrever é como qualquer outra atividade. Não só basta saber as regras, você também tem que aprender como utilizá-las. Lembra-se do exemplo dos livros de esporte ou artes marciais? Como você vai saber se está fazendo um dado movimento da maneira correta? Quer dizer um livro pode ajudar alguém que já sabe algo, mas sair do zero e achar que só com um livro você se tornará um profissional é um erro. Se você assim bastaria um livro para qualquer um saber como dirigir um automóvel.
Ou seja, os livros de escrita (de qualquer coisa na realidade) podem até te ajudar, facilitar sua vida, mas no fim você precisará de um profissional, e na literatura o primeiro deles é o leitor crítico, para descobrir se você está fazendo tudo certo. Porque numa época em que a concorrência está cada vez maior, você não pode simplesmente achar que está fazendo um trabalho profissional, tem que saber que está! FALA SÉRIO! Não é a toa que, como eu já vi da boca de inúmeros editores, 95% dos originais recebidos pelas editoras não está efetivamente pronto.
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