BASTIDORES LITERÁRIOS – EDITORES, HARRY POTTER E O CONTEXTO


Por Gianpaolo Celli, consultor do ALITERAÇÃO SERVIÇOS EDITORIAIS

 

 

Ainda a respeito do bate papo sobre uma chance ao escritor nacional que eu comentei no artigo da semana passada, eu tenho que dizer: FALA SÉRIO! É interessante como editores adoram jogar informações fora de seu devido contexto, sem perceber que qualquer profissional que conheça o contexto no qual a informação está inserida, coisa cada vez mais simples num mundo globalizado e com internet, consiga notar a incapacidade, para não dizer a falta de vontade das editoras em ver, assim como fazer a divulgação e o marketing dos livros nos quais eles mesmos estão apostando. Assim, o que uma das editoras comentou foi que aqui no Brasil Harry Potter só começou a fazer sucesso após o lançamento do terceiro volume da série.

O que ela efetivamente se esqueceu de mencionar foi que isso aconteceu exatamente quando o primeiro filme da série, já um blockbuster mundial, chegou ao Brasil. Ou seja, FALA SÉRIO! A série só começou a vender bem porque alguém, que não eles, acreditou no produto, comprou-o, transformou em filme e fez a divulgação. É como já disse e repito: vender livro de um filme que acabou de estourar no cinema é fácil! Quero ver fazer como acontece no mercado externo, que as editoras recebem o original, o analisam, veem se é isso que o mercado está buscando, e lançam após e durante a campanha a divulgação e o marketing para fazer um livro desconhecido não só vender, mas as vezes tornar-se o best-seller que as editoras nacionais comodamente compram os direitos.

Esse, inclusive, é o grande problema de todo escritor desconhecido, fazer com que o público leitor saiba que sua obra existe. Agora, a editora não conseguir fazer isso, quando ela tem todos os meios e recursos… FALA SÉRIO!

Ainda falando a respeito de Harry Potter, até onde me recordo para vender seu original J.K. Rowling não precisou ter blog, wattpad, vídeo no Youtube, como os editores nacionais dizem ser praticamente obrigatório. Inclusive, sabe o que isso me lembra? Uma anedota sobre o fato de a autora ter precisado apresentar seu original para diversas (alguns dizem que foram vinte) editoras antes que a última aceitasse publicar a saga do garoto mago.

A história é a seguinte: alguns anos depois da série se tornar um sucesso mundial um destes inúmeros editores que não aceitou a mesma, provavelmente por achar que “ela não tinha potencial”, ao ver o sucesso da série vira para seu assistente e, preocupado com as contas chegando e as vendas caindo comenta: – Pena que ela não apresentou o original para nós! Já imaginou como estaríamos se tivéssemos Harry Potter em nosso catalogo? – O assistente faz uma careta ao encarar o chefe e replica: – Mas ela apresentou para nós! – Ao que o editor, espantado, questiona: – Como assim? Quem foi o idiota que recusou Harry Potter? – O assistente aponta o dedo para ele e responde: – Você!

Ou seja, FALA SÉRIO! É fácil ter certeza do sucesso de alguma coisa depois que o mesmo aconteceu. Difícil é ver isso quando ninguém ainda viu! Como dizia o estrategista Sun Tzu: “NÃO É PRECISO TER OLHOS ABERTOS PARA VER O SOL, NEM É PRECISO TER OUVIDOS AFIADOS PARA OUVIR O TROVÃO. PARA SER VITORIOSO VOCÊ PRECISA VER O QUE NÃO ESTÁ VISÍVEL”.

Como eu mesmo comentei um evento sobre literatura que ministrei no SENAC esta semana, um dos maiores sucessos da Tarja Editorial foi o livro Steampunk – Histórias de um passado extraordinário, que literalmente acendeu o interesse pelo gênero no Brasil. Eu me recordo que, interessado por Steampunk e conhecendo outros leitores que também o eram, percebi que não existia absolutamente nenhum título em português do gênero. Assim, vendo relação de oferta e procura, a editora lançou a coletânea, que teve um retorno excelente por parte do publico, tornando-se o livro mais vendido da Tarja.

FALA SÉRIO! É isso é o que um editor deve fazer! Como os analistas internacionais fazem nas grandes feiras literárias, analisando a demanda do mercado, assim como o que irá ser lançado no ano de modo a conseguir uma imagem da oferta e da demanda, para com isso verificar os originais que recebem, assim como pesquisar no mercado para analisar no que investir. Se o editor não fizer isso, este “profissional” não passará de um mero comprador de best-sellers, normalmente internacionais, já devidamente testados com o marketing, mercado, muitas vezes até com um filme pronto.

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