BASTIDORES LITERÁRIOS – O QUE O MARKETPLACE DA AMAZON MUDA PARA O ESCRITOR?


Por Gianpaolo Celli, consultor do ALITERAÇÃO SERVIÇOS EDITORIAIS

 

 

Há algum tempo eu publiquei um artigo cujo título era O FUTURO DO LIVRO DIGITAL… NO BRASIL, onde discutia exatamente a respeito da dificuldade de se vender um e-book no Brasil.

FALA SÉRIO! Na verdade esse é um assunto que vem surgindo inúmeras vezes, sempre com uma mascara diferente, e estou voltando a ele, pois recentemente a Amazon lançou no Brasil o serviço de Marketplace, que possibilita pessoas físicas, incluindo autores independentes, a venderem seus livros na plataforma.

O artigo citado acima, inclusive, foi criado em cima da situação gerada pelo KDP (também da Amazon), que possibilita que o escritor independente publique, sem a necessidade de uma editora, sua obra em formato de e-book. Depois disso a mesma Amazon liberou (ainda não aqui no Brasil de modo que isso ainda não influenciou tanto a cabeça dos escritores daqui) um sistema que possibilita o autor a vender versões físicas de seus e-books, que seriam gerados por demanda de acordo com as compras.

É! Você leu certo. POR DEMANDA!

Na verdade é exatamente por esse motivo que comentei acima que o assunto é sempre o mesmo, surgindo só com uma mascara diferente. Por que eu estou falando isso? FALA SÉRIO! Porque o sonho de 90% dos escritores é ver seu livro publicado por uma grande editora, para não dizer um best-seller. O resto é besteira!

O problema é que, como já repeti inúmeras vezes em cursos, palestras, artigos e discussões de internet, 95% das obras que chegam às editoras, ao menos no Brasil, não estão prontas para o mercado.

Isso sem contar, e eu tenho comentado isso diversas vezes nos últimos anos, que cada vez mais as editoras estão procurando autores que vendam sem que elas precisem investir em marketing e propaganda para isso. FALA SÉRIO! Recentemente um editor teve o descaramento de comentar que só era interessante para as editoras o escritor já tem uma plataforma de leitores.

Como?

Vai da moda! Pode ser investir em livros de colorir ao invés de literatura, ou quem sabe em youtubers, que já vem com um exército de fãs que mais parece um bando de zumbis.

Aqui cabe um adendo. Para quem não sabe a palavra fã, e eu não canso de lembrar isso, tem sua origem na palavra ‘fanático’, de fanatismo, um estado psicológico de fervor excessivo, irracional e persistente por qualquer coisa ou tema. Quer mais? Segundo a psicologia, fanáticos normalmente possuem as seguintes características: agressividade; preconceitos; estreiteza mental; credulidade extrema; ódio; e parcialidade em seu juízo de valores.

Então, FALA SÉRIO! Pense duas vezes antes de se dizer “fã” de alguém ou alguma coisa.

Isso sem contar, ainda a respeito da moda dos youtubers, que a maioria nem é escritor, de modo que o livro nem por ele é escrito. E pra terminar, uma vez mais voltando à questão dos modismos, essa tendência de ficar pulando de um para outro – e pode acreditar que isso dói em mim como escritor, como leitor e como editor – demonstra uma enorme falta de respeito para com o leitor, sem contar com os escritores, para não dizer com a cultura, pois tudo isso indica que o que a maioria das editoras está querendo na verdade não passa de vender, não importa o que ou para quem!

De qualquer modo, voltando ao assunto e um pouco mais no tempo, como eu já expliquei em artigos aqui no Aliteração, assim como em palestras e cursos que ministrei, essa tendência de produção por demanda surgiu, ao menos aqui no Brasil, em meados dos anos ’80, quando professores que davam aula para quatro ou cinco classes em duas ou três escolas, o que quer dizer algo entre 300 e 400 alunos se pensarmos em classes com de 25 a 30 alunos, procuraram gráficas e editoras pequenas para publicarem os livros que eles mesmos usariam para dar aula e que venderiam nas papelarias das escolas ou CA das faculdades em que davam aula.

O que isso tem a ver com a literatura?

Bom, com a popularização do Computador Pessoal as pessoas, que antes só sonhavam em escrever, começaram a usar esses PCs para colocar no papel suas ideias e, como eu já coloquei acima, como 95% dos originais, por não haverem passado por processos de Leitura Beta, Leitura Crítica, Preparação de Texto e Revisão – processos que em países onde o processo editorial é mais avançado, cabe ao Agente Literário – não possuía a qualidade necessária para publicação, descobriram nessas editoras por demanda uma opção de publicação independente.

O que a maioria destas editoras não explica é que, como diferente dos professores, que tem um público em seus alunos, os escritores independentes não conseguem colocar seus livros nas livrarias sem nota fiscal ou uma distribuidora, de modo que mais complicado do que publicar, que bastava pagar, era vender seu livro.

O tempo passou e, como eu coloquei em meu artigo O FUTURO DO LIVRO DIGITAL… NO BRASIL, o e-book surgiu e caiu, só para ressurgir com os tablets, smartfones e leitores digitais. E com o KDP da Amazon o escritor independente uma vez mais pôde sonhar em publicar, agora sem os custos necessários para produção física.

O problema é que os processos de leitura beta, crítica, preparação de texto, revisão e capa, que a maioria tende a ignorar, ainda se fazem necessários para uma que chame a atenção. Assim, apesar de existirem um ou outro caso – os quais FALA SÉRIO! Como eu sempre digo são mais exceções do que regras – pior do que publicar ainda é vender seu livro.

Como você deve imaginar a história não mudará com esse processo de publicação física de seu livro digital. E FALA SÉRIO! Infelizmente nem com a abertura do Marketplace no Brasil. Pois com a entrada de editoras, livrarias e sebos, sem contar inúmeros autores independentes que publicaram seu livro por demanda somente para colocá-los a venda na Amazon, ele se tornará uma versão digital do que hoje é mercado editorial físico, onde como já vimos, é difícil vender.

Veja bem, não que eu não esteja ansioso com todas as oportunidades que sempre estão surgindo no mercado (seja a publicação independente, o financiamento coletivo, o e-book, todos que eu já comentei em artigos anteriores).

Não que eu não ache que isso, como muitos antes, não só possa facilitar a vida do escritor iniciante e do independente, como também que agitará o mercado. Mas sendo realista, bater de frente com os grandes players do mercado continuará a ser uma dificuldade em que somente poucos, por determinação, sorte, estar no lugar certo e na hora certa ou conhecer as pessoas certas, se sobressairão.

Mesmo assim, é como eu sempre digo fácil ou difícil, o importante é não desistir! Assim, como não esquecer que para competir com os grandes você precisará de leitura beta, leitura crítica, preparação de texto, revisão, diagramação e capa.

É como vivo repetindo: ESCREVER É TÃO DIFERENTE DE ESCREVER PROFISSIONALMENTE QUANTO DIRIGIR UM CARRO É DE PILOTAR UM FORMULA 1.

Então FALA SÉRIO! Faça sua parte direito!

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