Por Gianpaolo Celli, consultor do ALITERAÇÃO SERVIÇOS EDITORIAIS
É interessante como vira e mexe os mesmos assuntos voltam à baila. Esta semana estava conversando com outros profissionais do mercado literário/editorial a respeito de uma discussão nas redes sociais sobre a real necessidade dos cursos e livros que ensinam a escrever e acontece que não faz muito tempo, no final do ano passado eu publiquei aqui um artigo de duas partes a respeito de um livro que havia lido a respeito de escrita criativa, intitulado Será Que Livros Sobre Escrita Realmente Ensinam A Escrever?
Eu me recordo que, apesar de criticar o livro em questão, comentei que a colocação em questão não só não era uma generalização, como outros livros a respeito do assunto que eu havia lido eram bastante interessantes, apresentando modos de trabalhar e dando dicas a quem está começando. Mesmo assim meu ponto de vista não mudou. Livros e cursos de escrita são mesmo necessários?
FALA SÉRIO! NÃO! Como eu já disse, basta que o escritor saiba ler ficção de maneira crítica, analisando ‘o que’ ou ‘como’ outros autores estruturam suas histórias ou trabalharam suas cenas.
Agora, apesar de normalmente usar a comparação de que ESCREVER É TÃO DIFERENTE DE ESCREVER PROFISSIONALMENTE QUANTO DIRIGIR UM CARRO É DE PILOTAR UM FORMULA 1, hoje farei algumas um pouco diferentes:
– Considere que você precisa chegar a uma determinada rua numa parte da cidade que, apesar de vice conhecer, não está familiarizado. O que você faz? Vai por conta própria ou busca informações em algum guia, aplicativo ou algo assim, de modo a chegar com mais segurança?
Agora, escrever profissionalmente é uma situação semelhante. Isso, pois apesar de você saber as regras básicas da escrita, existem detalhes que o mercado exige que você, apesar de conhecer, por ser um leitor ávido, não está totalmente familiarizado. O que fazer então?
– A outra comparação nos remete a infância. Você aprendeu a ler e a escrever. Antes de pedir para que você faça sua primeira redação, contudo, o que o professor faz? FALA SÉRIO! Ele ensina como fazer. Porque uma redação possui regras que vão além do simples escrever. É aquela coisa de Introdução ou apresentação do assunto, desenvolvimento ou argumentação de seu ponto de vista e então conclusão, baseada em sua argumentação.
FALA SÉRIO! Se você precisou de um curso, ou de livros para aprender a escrever, assim como precisou deles para aprender a fazer uma redação – assunto que é considerado tão importante nos vestibulares que os cursinhos têm aulas especiais para redação, além das aulas de português – por que não poderia usar a mesma ajuda na hora de se tornar num profissional da escrita? De escrever um livro?
Mas veja, eu não espero que você acredite em minhas palavras sem ao menos um estudo de caso! Quer um exemplo do que a falta de contexto na escrita profissional pode fazer?
Um dia resolvi dar uma chance a novos autores e ler um livro publicado por demanda. E como eu já disse em textos anteriores a respeito, li até o final de teimoso que sou só para ver até onde ele ia. A história iniciava com uma sequência de ação que durou até o final do primeiro capítulo. No segundo, contudo, o autor começou a apresentar o passado do protagonista. Como nem sequer havia ligação entre a trama dos capítulos inicialmente eu imaginei a história fosse trabalhar a técnica de mostrar o passado e o presente simultaneamente de modo a deixar o leitor curioso a respeito do que aconteceria no futuro enquanto explica o porquê daquilo estar acontecendo. Bom, não preciso dizer que o terceiro, o quarto e todos os demais capítulos simplesmente contavam a história do passado do personagem, de modo que logo eu percebi que a “dica” que o escritor usou, totalmente fora de qualquer contexto, foi ‘pegue uma parte do meio da história e coloque-o no início, para chamar a atenção do leitor’. Veja bem, a técnica efetivamente existe!
Mas FALA SÉRIO! Sozinha, jogada no meio, ou no início da história ela não adianta em nada. Eu entendo que inúmeros profissionais de mercado dirão que o livro deve agarrar o leitor desde a primeira página – e eu tenho que concordar, pois já ouvi muito escritor dizendo que “a história melhora depois da página 30, 40 ou 50”, e eu mesmo já tive de responder “então comece o livro na página 30, 40 ou 50” – mas FALA SÉRIO! De que adianta chamar atenção do leitor no primeiro capítulo só para depois perdê-lo no segundo, terceiro ou quarto?
Porque aqui eu novamente retorno ao que já coloquei inúmeras vezes aqui. Não adianta só ler um livro ou fazer um curso de escrita profissional se você não treinar as técnicas apresentadas de modo a internalizá-las. Só ler por ler, ou assistir o curso e não treinar fará com que o livro ou curso não tenham valido nada. Do mesmo modo que copiar técnicas sem adaptá-las a seu estilo de história, fará com que suas histórias ou fiquem todas iguais ou terminem parecendo uma colcha de retalhos, ou um monstro do Dr. Frankstein.
Porque é como eu digo, mais importante do que publicar seu livro, que muitos novatos acham que é fim da ornada do escritor, é vender seu livro. Porque FALA SÉRIO! Só se isso acontecer você se tornará um profissional da escrita. Ninguém quer ser, afinal de contas, o que no meio musical são os “One-hit Wonder”, em português “maravilhas de um sucesso só”, artista ou grupo musical conhecido por apenas uma música que conseguiram emplacar nas paradas.
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