Essa pode parecer uma pergunta besta, mas ao final deste artigo você vai ver que está longe de ser. E não é só uma questão da escola ou o vestibular ter uma lista de leituras obrigatórias, nem de modismos. Basicamente existem dois tipos de leitores, aquele vai às livrarias sabendo o que quer e aquele que vai sem uma ideia na cabeça, buscando livros pelo gênero, pela capa ou por textos de quarta capa e orelha. Se considerarmos de um modo simplista, o primeiro escolhe por si mesmo, enquanto o segundo é mais afetado pelo que lhe será apresentado nas prateleiras. Mas, será que é assim mesmo? Será que algum deles efetivamente escolhe o livro que vai ler?
Recordo-me de quando eu era editor, muitos leitores nos agradeciam por trazermos autores como China Miéville, Jeff Vadermeer ou Ekaterina Sedia, ou por lançar coletâneas, como, por exemplo, a Steampunk – Histórias de um Passado Extraordinários, que não só trouxeram ao mercado, como também fizeram com que outras editoras se interessassem por gêneros como o Steampunk e o New Weird Fiction, antes inexistentes em nosso mercado e que, portanto, o leitor que não lê outras línguas não podia ler, quisesse ele ou não! E isso porque a minha era uma editora pequena! Se você for analisar o mercado, o que verá em sua maioria o que existem nas livrarias é uma variação dos best-selleres, normalmente de assuntos que estão “bombando” no momento. E como o que é publicado aqui, como os filmes que chegam a nossos cinemas, não é uma fração do que é publicado lá fora (e isso pensando só nos EUA, sem contar inúmeros outros mercados, como o europeu, que o asiático é dividido em diversas línguas) quem realmente dita o que você lerá? FALA SÉRIO! As editoras!
Mas será que é só isso? Não! Porque nem tudo o que é lançado no mercado efetivamente chega às livrarias. Na verdade isso seria impossível! Anualmente se publica, só no Brasil, uma média de 50 mil novos títulos todo ano e o espaço nas livrarias definitivamente não cresce na mesma proporção. Na verdade estes espaços vêm diminuindo, pois diversas livrarias fecharam as portas nos últimos anos. E mesmo que agora supermercados e loja de departamentos também vendam livros, os quais também são vendidos na internet, esse número nem chega perto da quantidade de títulos lançados a cada ano. Não podemos esquecer, afinal de contas, que não é porque o ano muda que livros lançados no ano anterior não continuam nas prateleiras, de modo que temos sempre menos espaço físico para os livros. E se considerarmos que não só já faz algum tempo que as livrarias vendem os espaços especiais, como pilhas e pontas de gôndola, como, segundo algumas editoras, mesmo estes espaços sendo pagos, a decisão de escolha do que irá neste espaço termina sendo dos livreiros, seja o profissional que compra ou o que vende os livros. Quem decide o que você verá antes ao entrar nas lojas é o livreiro.
Quer uma prova? Eu já vi o caso de uma editora que fez o lançamento de um livro numa grande rede de livrarias e consignando quase cem exemplares os quais, no dia seguinte não só já estavam no estoque, como se o leitor perguntasse (e isso aconteceu), o livreiro respondia que não só não havia exemplares disponíveis na loja, como que o leitor ou leitora teriam de esperar dias, as vezes semanas pela aquisição. E eu não vou nem comentar de um escritor que teve de fazer o lançamento de seu livro, também numa grande rede de livrarias, sem o livro! FALA SÉRIO! É exatamente o que você leu. Um lançamento sem livro. Isso, porque apesar da editora haver enviado à rede, a mesma não enviou para a loja devida, de modo que quando aconteceu o lançamento, não havia exemplares do livro na livraria.
E se considerarmos que você só compra o livro que sabe que existe, especialmente quando falamos dos nacionais, cuja divulgação e marketing oficiais são, devido ao tamanho das editoras ou a falta de interesse das mesmas, praticamente inexistentes, se a livraria não colocar o livro em exposição, você as vezes nem saberá que ele existe, quanto mais quererá comprá-lo. Isso se conseguir aguardar processos que vão de uma a até quatro ou cinco semanas! Haja vontade de ler! E não adianta a editora divulgar nas redes sociais se o leitor não encontra o livro, ou se o custo dele termina sendo dois ou três vezes o preço de um best-seller importado. À luz de todas essas colocações eu pergunto novamente: quem define o que você compra?
Inclusive, como eu mesmo já comentei mais de uma vez em palestras, muita gente reclama do preço do livro, culpando as editoras e falando que o escritor, assim como o leitor, são as partes lesadas, seja porque recebem uma porcentagem mínima do preço de capa, seja porque esse preço é muito caro. O que muitos esquecem é que as livrarias, que normalmente ficam com de 50 a 60% do preço de capa, fora o dinheiro cobrado por espaços de destaque, os quais terminam pesando no preço do livro, também fazem parte dessa equação, seja no preço, seja na decisão do cliente final. Assim, tendo em vista que editoras escolhem o que vão lançar e livrarias cada vez mais estão definindo que espaço para cada livro, dando ênfase nos best-sellers ao invés dos que possam chamar a atenção de um ou outro leitor, a questão de “quem decide o que o leitor vai ler a seguir?” toma uma nova proporção.
Eu já comentei muito a respeito do que isso muda para o escritor. Assim como de que mais complicado do que escrever o livro é publicá-lo! E mais do que estas duas coisas é vendê-lo! Pois só assim você poderá se focar em seu projeto seguinte, muitas vezes até uma continuação. O que acontece, então, se a livraria resolver não consignar seu livro? Ou se o livreiro resolver não trabalhá-lo como deve? Que foi o eu ouvi de alguns profissionais do meio editorial. FALA SÉRIO! Vender seu livro será impossível e lá se vai o que poderia ser uma carreira de escritor!
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