Mais cedo esta semana eu estava escrevendo uma cena na história que estou desenvolvendo que descrevia um aparato tecnológico. Agora, eu escrevo Steampunk, um subgênero de Ficção Científica em que durante a Era Vitoriana a tecnologia se desenvolveu mais do que em nossa realidade. Assim, estava descrevendo um andador no qual a protagonista estava viajando. Pensei comigo, então, terei de fazer, no futuro, a personagem ter de pilotar o andador numa situação crítica. Isso, pois ao fazer eu estarei dando lógica a descrição. Porque FALA SÉRIO! Senão ela será só “encheção de linguiça”.
Falar de descrição, especialmente quando o assunto é literatura fantástica, não só é um assunto muito importante, como algo que sempre volta à baila. E como esta semana mesmo eu participei de mais de uma discussão a respeito, resolvi comentar aqui por achar o assunto válido.
Descrever demais, assim como descrever pouco pode afetar sua história sensivelmente. O ponto, e eu sempre comento isso em relação às descrições, é: o quão os detalhes em questão são importantes no desenvolvimento da história? Quer dizer, eu conheço um estilo de escrever que é chamado ‘enciclopédico’ exatamente por detalhar tanto o ambiente em que a história está acontecendo, que a impressão do leitor é que ele escrever um trabalho sobre o assunto só lendo aquele livro. O ponto, contudo, é que a descrição precisa estar ligada a algo que acontecerá na história, pois assim ela passa a ser necessária.
FALA SÉRIO! Um excelente exemplo pode ser tirado da vida real. Você entra num bar e pede um refrigerante. Ao sentir o cheiro de pão quente, resolve pedir um chapa para acompanhar. O atendente entrega o refrigerante e logo depois o pão. Você agradece, come, bebe, paga e vai embora. Qual é o nome do atendente? Como ele é?
Não importa! Tanto na vida real (a sua) como numa história a importância dele é irrelevante.
Agora mudemos a cena: Como sempre acontece (ênfase em ‘sempre’), você chega cedo ao trabalho e para variar (ênfase em ‘para variar’) resolve complementar seu café da manhã com um pão na chapa e um café com leite na padaria da esquina. Ao entrar, Afonso, o atendente. o cumprimenta com um aceno de cabeça, perguntando então se você vai querer “o de sempre”. Você encara-o e acena positivamente com a cabeça, questionando se a filha dele melhorou da gripe assim que ele lhe entrega o café com leite.
Percebe que existe uma lógica para esse atendente ter um nome? Para, daqui a um par de linhas ele ter até uma descrição física? Você encontra com ele regularmente, o conhece, conversa com ele. Ele é mais do que um simples “extra” em sua história, mas um coadjuvante com quem o protagonista tem um relacionamento. A conversa de ambos pode dar dicas sobre a trama, ajudar a desenvolver a mesma, etc.
A questão piora quando se fala de fantasia. Como muitos clássicos têm mais de meio século, tendo sido escrito numa época diferente, existem neles um excesso de discrições. O escritor novato, lendo aquilo considera ao escrever que deve descrever em exagero o que quer que seja, uma espada, um cavaleiro, um castelo. Ele esquece, contudo, que a história dele não é um clássico e será lida como uma obra nova. Deste modo, antes de exagerar na descrição, deve considerar “qual será a importância deste elemento na história”?
FALA SÉRIO! Um castelo não precisa ser descrito detalhadamente se, além de cenário, ele não for tomar parte na trama. Do mesmo modo uma espada não deve ser descrita em minúcias a não ser que ela tenha importância. Porque além de isto ser “encheção de linguiça”, ao apresentá-la e depois não fazer nada com ela, o leitor poderá se decepcionar.
Sim! Pois o leitor poderá achar que aquilo é um ponto de tensão na história e esperará que, como eu já disse, essa descrição seja de alguma forma importante para história, e ao ver que ela não levou a lugar nenhum, ficará decepcionado. E se achar que além disso, as descrições excessivas deixam a história chata, será a morte para a mesma!
Assim, considere a respeito antes de fazer uma descrição enorme, desnecessária e chata em sua história.
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