Apesar de já haver comentado a respeito de inúmeros aspectos de mais de um dos profissionais dos quais comentarei abaixo, nunca falei deles e de suas funções em conjunto. Mesmo assim, o que me levou a escrever este artigo foram algumas discussões, comentários e reclamações de profissionais do meio que eu achei interessante repassar, pois muita gente, apesar de já há algum tempo no mercado, as vezes não conhece as distinções.
ESCRITOR – Eu sei que pode parecer estranho ter de comentar a respeito da função do escritor, que obviamente é escrever, mas apesar de roteirista estar colocado como um tópico diferente (e o interessante é que em inglês os termos podem ser semelhantes, pois apesar roteirista ser script writer, escritor de roteiros, ele também pode ser nomeado como simplesmente como writer, escritor), existem diversos escritores, como Shakespear ou Ariano Suassuna, que escrevem peças, mas apesar disso são conhecidos como escritores. É inclusive por esse motivo que eu comentarei a respeito do roteirista antes do Ghost Writer.
Mas existe diferença de ‘escritor’ e ‘autor’? Você pode questionar. FALA SÉRIO! Sim! Como já foi colocado acima: escritor é aquele que escreve. Um ponto, entretanto, que já comentei em artigos anteriores, mas que acredito ser uma dúvida da qual vale a pena falar uma vez mais, que é da diferença do ‘escritor’ para o ‘autor’. A palavra escritor é relativa a uma função, a um trabalho, já autor é uma determinação de propriedade intelectual. Assim, a obra X é de autoria do escritor Y. Este escritor é, portanto, autor da obra X.
ROTEIRISTA – Atualmente qualquer um que escreva um roteiro, seja do já citado teatro, do cinema, de séries, desenhos ou novelas, assim como de quadrinhos, é um roteirista. Qual a diferença dele para o escritor convencional? É que enquanto o escritor cria uma narrativa em que mescla o dialogo, de modo que o leitor imagina a cena, o roteirista descreve a cena, muitas vezes até com ângulo de visão, para que a mesma seja desenhada, filmada ou interpretada, colocando abaixo as falas dos personagens. Esta, por sua vez, é passada ao desenhista, diretor e, no caso do cinema ao ilustrador que fará um storyboard, com desenhos de como será a filmagem.
Mas existe diferença do escritor da novela para um roteirista? Você pode perguntar. FALA SÉRIO! Sim! Pois o escritor da novela cria uma história básica para cada capítulo e entrega ao roteirista, que trabalhará essa base dando-lhe consistência. O mesmo também acontece, como eu já citei anteriormente quando comentei a respeito do filme Curtindo a Vida Adoidado, com o roteirista de cinema. Como o processo de criação passa necessariamente por outras pessoas, os atores inclusive, diversos roteiros não definem as cenas totalmente, cabendo aos diretores, assim como aos atores agirem como cocriadores, dando seu toque especial de modo a criar, da ideia do roteirista, algo impar.
GHOST WRITER – Inclusive, é exatamente essa função do Ghost Writer. Pegar uma ideia e desenvolvê-la, criando uma obra efetiva do que antes era um simples amontoado de conceitos, ajudando pessoas que não tem o dom da escrita a criar algum único. Seja no caso de livros de não ficção, de biografias, de memórias ou de obras de ficção, quando estes escritores fantasmas (e o termo é este, pois eles muitas vezes são invisíveis) ajudam profissionais de outras áreas a escrever seus livros.
LEITOR CRÍTICO – Neste tópico chegamos à segunda parte da criação literária. Não entendeu? Acontece que, quando a obra chega às mãos do leitor crítico, ela está, ou deveria estar acabada. O que ele faz então? Lê a obra de maneira crítica, apresentando ao escritor um relatório com as partes fortes e as partes fracas da mesma. Apontando erros de continuidade, elementos que podem ser melhorados, acrescentados ou tirados, de modo a deixar a obra mais afinada com o mercado.
Mas não é o editor que faz isso? FALA SÉRIO! Não! Como veremos abaixo, ao falar da função do editor, veremos que ele faz, ou deveria fazer sim uma leitura crítica das obras que publica, mas não dará feedback, ao menos nas editoras grandes, algum ao autor da mesma.
PREPARADOR DE TEXTO – Ao preparador de texto cabe trabalhar os aspectos estruturais da obra. Após a leitura ele retrabalha ou indica ao autor desde parágrafos estranhos até frases ininteligíveis, estranhas ou que devam ser mudadas para uma melhor compreensão por parte do leitor.
REVISOR – Finalmente a obra vai para o revisor. A função dele é simplesmente fazer uma correção da obra, de modo que ela não tenha, ou tenha o mínimo de erros de português.
AGENTE LITERÁRIO – Ainda não muito conhecido no Brasil, cabe ao agente literário dar suporte ao escritor, seja servindo tanto nos aspectos de criação da obra, como leitor crítico, preparador ou mesmo revisor (ele ou algum profissional contratado por ele), seja intermediando o contato do escritor tanto com as editoras e livrarias, como com a mídia, de modo que os textos apresentados por ele não só sejam sempre os melhores possíveis, como que as chances dele de desenvolver sua carreira sejam sempre as melhores. Isso, e FALA SÉRIO!, que sobre para ele tempo para se dedicar a sua função, que é escrever!
EDITOR – Finalmente chegamos ao outro lado do processo (deixarei de lado os distribuidores e livreiros, pois eles estão mais ligados a processos de comercialização do que de produção do livro), o editor. É aqui que, como eu já coloquei, muitos escritores que estão começando se enganam, achando que cabe ao editor fazer o serviço do leitor crítico, dizendo os pontos fracos e fortes da história, de modo que ela possa ser retrabalhada. FALA SÉRIO! Isso pode até acontecer em editoras pequenas (eu mesmo já fiz isso quando editor), em que existe um maior envolvimento do editor no processo de criação, mas o normal não é que aconteça. A menos que ele veja um enorme potencial num determinado original, se o editor verificar que ainda existe muito trabalho a ser feito, ele simplesmente deixará passar.
Por outro lado, cabe ao editor (ou caberia, pois muito poucos aqui no Brasil fazem isso) verificar o que o mercado está precisando, buscar escritores que trabalhem o gênero de modo a apresentar uma oferta (quando editor eu mesmo fiz isso como parte do corpo editorial da Tarja, publicando o primeiro livro de Steampunk em português, o primeiro de New Weird Fiction e o primeiro mashup de literatura nacional), assim como buscar o que está estourando lá fora de modo a trazer para o mercado nacional (o que é basicamente só o que os editores nacionais sabem fazer).
De qualquer modo, e FALA SÉRIO!, este é um ponto importantíssimo: nenhuma das funções acima mencionadas deve mexer com estilo do escritor. O bom profissional, independente da função que esteja ocupando, deve compreender e respeitar o estilo de escrita pessoal de cada escritor, mesmo que não concorde com o mesmo!
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