[Bastidores literários] – Como apresentar elementos em sua história?


Dando continuidade ao assunto da quarta passada, essa semana eu estava conversando com um escritor para quem fiz uma leitura crítica e ele me surgiu com uma dúvida exatamente a respeito da descrição de uma espada em particular. A primeira coisa que eu questionei foi: Por que você precisa descrever essa espada? Como ele não entendeu a pergunta, eu emendei com: Qual a importância dela na trama?
A resposta, desta vez foi: Ah. É só uma espada! E quando eu comentei que então ele não deveria detalhá-la, ele colocou: Mas na fantasia não se detalha muito as coisas? Para criar o clima da história?

FALA SERIO! Assim que ouvi aquilo a primeira coisa que me passou pela cabeça foi uma cena no início do livro Anjos e Demônios, do Dan Brown, quando os protagonistas são levados no helicóptero do Papa e durante a viagem é comentado que “nele só há um paraquedas”. Recordo-me que quando li aquilo logo pensei: “por que diabos ele está colocando esse comentário logo agora?” A resposta, é claro, veio no fim do livro (no filme a história é diferente), quando o professor Langdon e o carmelengo sobem no helicóptero do Papa com a antimatéria prestes a explodir…

Quer dizer, realmente eu concordo que uma das críticas comuns ao gênero da fantasia é que muitas vezes os escritores se alongam demais nas descrições do ambiente, de modo a facilitar o trabalho do leitor de criar a cena, mas que com isso chamam atenção para elementos que não necessariamente serão importantes à história. É claro que por outro lado não se deve negligenciar as descrições, pois ao fazer o escritor está deixando o leitor na mão. O importante neste caso é achar um ponto médio entre a falta e o excesso de informações. Se focando, inclusive em como apresentá-las. E é este o ponto chave aqui!

Há algum tempo, inclusive, eu escrevi dois artigos falando a respeito de clichês e um deles era apresentar o protagonista com ele se olhando no espelho. Existem tantas maneiras de se fazer isso que FALA SÉRIO!

E olha que existe um estilo de escrita que alguns estudiosos chamam de “enciclopédico”, no qual o autor apresenta informações excessivas de modo que o leitor termina a história se achando um especialista no assunto do livro. Dois exemplos de escritores que trabalham desta maneira são o Tom Clancy e o Ken Follet. Mesmo assim, quando eles começam a detalhar muito alguma coisa, pode ter certeza que algo acontecerá com ela. Isso, inclusive, termina sendo um ponto positivo, pois a técnica aguça a curiosidade do leitor enquanto (aí sim) cria o clima do que terminará sendo um dos pontos de tensão da história.

Mesmo no caso acima citado do livro Anjos e Demônios, a apresentação (que eu concordo é necessária) poderia ter sido feita de outra maneira, de modo a não ficar na cara que aquela era uma informação que seria um ponto chave mais para frente na história. Tudo, afinal de contas, é uma questão de se contextualizar o que se apresenta, não simplesmente jogando a informação no meio do nada. Até porque se ao fazer isso você até pode estar quase que tatuando-a na memória do leitor, mas ao mesmo tempo essa técnica pode causar suspeita por parte do leitor, que até poderá terminar por estragar o próprio fim que depende dela.

Por que eu estou apresentando esse caso? Primeiro porque foi um dos muitos em que percebi que a dúvida apresentada poderia ser a outros escritores. Depois, FALA SERIO! Porque este é exatamente um dos pontos que eu trabalho nos processos de Leitura Crítica, algo essencial para qualquer autor que quer não só ver seu livro nas livrarias, mas também sendo lido!

Previous Paulo Coelho - Hippie @EDITORAPARALELA @PAULOCOELHO #resenha
Next [Bastidores Literários] Para quem você está escrevendo afinal de contas?

No Comment

Deixe um comentário! Quero saber o que achou do texto ;)