Emocionante. Não há outra palavra para definir a biografia escrita por João Marcello Bôscoli sobre os 11 anos, seis meses e 19 dias vividos ao lado de sua mãe, a eterna Elis Regina. Muitos podem se perguntar – e provavelmente irão – se o livro se trata de uma biografia da mãe ou do filho, e eu acredito, verdadeiramente, que esse foi um feliz caso de um relato de vida muito bem dividido e entrelaçado pelo autor entre os dois, pois é claro que ser filho da maior cantora do Brasil foi fundamental na formação profissional de Marcello, e não há como conhecê-lo a fundo sem mergulhar em sua infância recheada por traquinagens e referências musicais das mais ricas. Por outro lado, o legado de Elis como cantora é tão rico e tão absurdamente abordado em diversas mídias que sobra pouco espaço para conhecermos o ser-humano por trás da lenda; e quem melhor para nos contar essa história do que seu primogênito?
A sensação de afago no peito ao ler sobre as situações mais mundanas é uma constante no livro, claramente proporcionada pelo relato mais personalizado e genuíno possível. O autor, aliás, afirma que não houve qualquer trabalho de pesquisa e, portanto, todas as páginas escritas são fruto único e exclusivo de suas emotivas lembranças. Um erro? Para um livro-reportagem, talvez; mas jamais para um registro tão sincero de sua vida familiar e de uma Elis que, sejamos francos, pouca gente, até hoje, se interessou em conhecer – fato comum quando se fala da vida de artistas.
Porém, não apenas por travessuras infantis, visitas a ensaios e voltas da escola o livro é preenchido. A mãe amorosa era também implacável quando Marcello fazia algo que afrontava seus princípios (mesmo sendo ele uma criança), e não podemos nos esquecer da época compreendida pela história: anos setenta. Vigília na porta de casa, grampos telefônicos e medo constante, além de uma icônica visita à cadeia onde se encontrava a cantora Rita Lee, quando Elis enfrentou não apenas os militares, mas as várias pessoas que a aconselharam a não ir.
Sim, João Marcello fala de sua mãe com extremo amor e admiração, e até por isso, o relato sobre os dias que se seguiram à morte da cantora compõe a parte mais emotiva do livro, em que se revelaram os muitos abutres que a cercavam (inclusive a imprensa) e que nada fizeram ao verem a vida de um garoto de 11 anos desabar. Um dos principais consolos, segundo ele, veio dos fãs, que por toda sua vida lhe abordaram com a frase “quando sua mãe morreu eu estava em tal lugar, fazendo tal coisa”. No fundo, o livro é dedicado a essas pessoas, e a todas que, mesmo não tendo a oportunidade de conhecê-lo, lamentam junto com ele a ausência de Elis.
Capa, ficha técnica, sinopse
Elis e eu
11 anos, 6 meses e 19 dias com minha mãe
João Marcello Bôscoli
ISBN: 9788542217711
Editora: Planeta
Número de páginas: 200
Encadernação: Brochura
Formato: 14 x 21 cm
Edição: 2019
Sinopse
“Você lembra da sua Mãe?”
Escuto essa pergunta há muitos anos. E quase sempre em situações corridas do dia a dia, sem muito espaço pra responder. Então resolvi escrever tudo ao alcance da minha memória e compartilhar como se cada leitor ou leitora fosse um amigo ou amiga com quem tenho intimidade e tempo. Não houve pesquisa externa, consultas biográficas ou conversas; apenas minhas lembranças. Dos primeiros anos há imagens, passagens, sensações. Com meu crescimento, vêm curtas-metragens mentais, diálogos mais longos. Elis Regina é a parte pública da minha Mãe, uma de suas faces. Embora suas entrevistas e canções iluminem muitas coisas, o olhar de uma criança, de um filho, durante 11 anos, 6 meses e 2 dias podem revelar outros contornos da mulher que me deu a vida, da mulher que é o amor da minha vida. E o amor, que aprendi com Ela, é a única força realmente transformadora. Amo ser filho da minha Mãe.
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