Você já leu uma biografia filosófica? Pois é, até alguns dias atrás, eu também não tinha lido nenhuma e, de fato, nem sei se não estou inaugurando o termo aqui. Minha estreia no estilo foi com Como aprendi a pensar, da autoria do filósofo e escritor brasileiro Luiz Felipe Pondé, na qual ele nos apresenta as origens de sua formação como profissional do ramo e um apanhado geral das ideias e conceitos que mais o atraem nesse campo de conhecimento tão vasto.
Em primeiro lugar, é importante deixar claro que, diferente do autor, eu não possuo formação acadêmica em filosofia e nem de longe tenho a pretensão intelectual de travar um debate ou rebater conceitos sobre os quais Pondé, obviamente, tem mais domínio do que eu. Contudo, posso, sim, analisar a forma como o conteúdo do livro foi apresentado, a qual, acredito, cumpriu com as metas traçadas por seu autor de apresentar as bases intelectuais de suas ideias e, principalmente, de debater a Filosofia – tão estigmatizada como algo inatingível a reles mortais – em um plano mais raso e acessível ao grande público.
Evidentemente, abordar uma temática tão complexa de forma mais rasa – e aqui não vai nenhuma crítica – é complicado, mas absolutamente realizável para alguém que já publicou tantos livros e está acostumado a dialogar com o grande público. Sofismo, “o homem é a medida de todas as coisas”, Niilismo, “Só sei que nada sei”, a metafísica de Platão… Todos esses conceitos se tornam bem mais tangíveis quando postos ao lado de questões atuais, como o debate político e a decorrente polarização do Brasil, e as nossas velhas conhecidas Fake News.
Por outro lado, se o objetivo principal da obra foi alcançado, como esperado de um homem de boa formação intelectual, não se pode deixar de lado uma questão. Pondé, bem como outros intelectuais, se tornou um popstar em seu campo de atuação. Longe de mim vir com o argumento ridículo e recalcado de que “o que faz sucesso perde a essência e se vende ao mercado”, tão utilizado no Brasil para desmerecer artistas, escritores e intelectuais. Não, meus caros, ganhar dinheiro não é crime, e passar fome não é atestado de qualidade profissional. Entretanto, Pondé sabe para quem escreve. Sabe que tem fãs, espalhados pelas redes sociais e que esses já conhecem sua linha de pensamento – ele apenas está dando maior base intelectual para alguns – e os veículos onde ele se expressa. Dessa forma, as afirmações de que não se importa com o que pensam dele e as frequentes citações aos seus muitos seguidores soam como antagonicamente demagogas.
Por fim, um livro feito para fãs e seguidores. Um guia, realizado com muito amor e carinho, que pavimenta a linha de raciocínio de quem já o conhece da grande mídia e das redes sociais.
Capa, ficha técnica, sinopse
Como aprendi a pensar
Luiz Felipe Pondé
ISBN: 9788542216578
Editora: Planeta
Número de páginas: 208
Encadernação: Brochura
Formato: 14 x 21 cm
Edição: 2019
Sinopse
Um passeio pela história da filosofia Um dos pensadores pop mais respeitados pelo público e pela crítica, Luiz Felipe Pondé apresenta neste livro uma história da filosofia diferente – a história dele com a filosofia. E não só: ele cita romancistas como Nelson Rodrigues, cientistas como Charles Darwin, economistas como Karl Marx e os psicanalistas Sigmund Freud e Carl Jung. Todos foram importantes na formação deste intelectual que, semanalmente, através de artigos, aulas e vídeos, nos questiona e nos ajuda a pensar e a entender o mundo em que vivemos.
Dividido cronologicamente em seis capítulos, Como aprendi a pensar começa na Antiguidade com os gregos e romanos, passa pela filosofia cristã dos primeiros séculos sob a forte influência de Agostinho e chega na idade medieval de São Tomás de Aquino. O renascimento, a formação da modernidade com o debate entre iluminismo e romantismo e, por fim, o contemporâneo. Não faltam tragédias como Antígona e Medeia e os filósofos estoicos, epicuristas e céticos que tanto influenciaram na formação de Pondé. “Sempre achei que os céticos têm, pelo menos, ‘alguma razão’ em duvidar da razão”, diz ele. Nietzsche, Dostoiévski e Camus dividem as páginas com seus colegas mais contemporâneos como o polonês Zigmunt Bauman, o francês Tristan Garcia e o romeno Émil Cioran.
Como aprendi a pensar é um convite para pensar, seguindo uma constatação do próprio autor: “Filosofar é aprender a fazer perguntas significativas que nos tornam mais inteligentes e mais interessantes – não, necessariamente, mais felizes”.
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