Não faz muito tempo, apresentamos aqui no blog resenhas de Matadouro 5 e O Café da Manhã dos Campeões, e discorremos longamente sobre traços de escrita de Kurt Vonnegut moldados, dentre outras coisas, pela biografia do autor; e eis que ao nos deparamos com seu romance de estreia, Piano Mecânico, lançado originalmente em 1952, e relançado neste ano pela Intrínseca, descobrimos os tais traços estiveram presentes desde o início da carreira do escritor.
Em um futuro distópico, após uma terceira guerra mundial vencida pelas máquinas, nasceu uma sociedade automatizada e dividida, não mais através do poder financeiro, mas do nível de inteligência de cada individuo. No privilegiado lado dos engenheiros e gerentes, o doutor Paul Proteus leva uma vida confortável, até que a visita inesperada de um antigo colega de trabalho, muda tanto sua rotina a ponto de fazê-lo questionar todo o modelo social no qual ele estava vivendo, querendo, inclusive saber como, afinal, era a vida daqueles que haviam sido marginalizados pelo sistema.
Perspicaz e muito bem escrito, Piano Mecânico é um excelente cartão de visitas sobre a mente questionadora e abalada de um Vonnegut que passou pelos horrores da Segunda Guerra Mundial e tinha uma visão bastante peculiar e cética com relação ao futuro da humanidade, além de uma imaginação de fazer inveja a muitos outros autores.
Nem de longe Piano Mecânico se trata da única obra da literatura – ou de outras escolas artísticas – a abordar com pessimismo um futuro pós-apocalíptico da humanidade entregando-se completamente às máquinas. O que talvez diferencie Vonnegut de outros autores – em particular, nessa obra – é, além do pessimismo, a fina ironia com que ele aborda essas temáticas. Vale lembrar que menos de dez anos antes do lançamento de seu livro de estreia, ela estava dentro de um matadouro, para se esconder de um bombardeio. Não daria mesmo para se esperar grande otimismo em suas projeções, não é mesmo?
Capa, ficha técnica, sinopse
Piano Mecânico
Kurt Vonnegut
ISBN: 9786555600803
Editora: Intrínseca
Número de páginas: 496
Encadernação: Capa dura
Formato: 14 x 22cm
Edição: 2020
Sinopse
Em um futuro não muito distante, pós uma nem tão distópica Terceira Guerra Mundial, as máquinas finalmente venceram. Quase tudo foi automatizado e logo a sociedade se dividiu sob um novo sistema de estratificação não mais baseado em dinheiro, mas sim em inteligência. De acordo com seu QI e capacidade intelectual, os indivíduos são classificados e registrados em um cartão perfurado e sua posição social ? um destino de glória ou esquecimento ? só pode ser definida a partir da análise desses dados.
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