Mico, vergonha, carão; quem nunca, não é mesmo? Eu, por exemplo, tenho uma galeria de fazer inveja a grandes personagens da comédia e, quanto mais o tempo passa, mais eles me divertem e mais me causam um estranho orgulho. Talvez nem tão estranho, já que, sejamos justos, ninguém gosta de se sentir constrangido; ao passo que o tempo e o consequente afastamento emocional tendem a transformar o constrangimento em histórias cheias de momentos divertidos.
Entretanto, um mico que me divertiu já nos minutos seguintes ao seu acontecimento se deu há alguns anos, num dos primeiros encontros que tinha com uma garota cujo nome não vamos expor, em vista da excessiva exposição que virá mais adiante. Lembro que saímos num fim de domingo pra tomar um chope num dos muitos barzinhos da Vila Mariana, e, por alguma razão, discutimos. Nada grave, mas o suficiente para azedar a bebida e silenciar o percurso de mãos dadas até o carro.
A rua era calma e o caminho não era longo, mas tive tempo suficiente de olha-la e, envolto pelas melhores e mais românticas intenções do mundo, ter a brilhante ideia de puxa-la pra perto, a fim de encerrar a briga com um beijo daqueles de cinema; mas sabem o que essas cenas que vemos nos filmes têm que as tornam tão especiais? ELAS SÃO ENSAIADAS! Óbvio que a garota veio, mas como não estava esperando ser puxada, perdeu o equilíbrio; e óbvio também que eu não contava que, num ato reflexo, ela fosse praticamente me empurrar pro chão, o que, como estávamos de mãos dadas, facilmente se converteu nos dois estatelados no meio do asfalto. Eu com a mão direita toda ralada, sob seu corpo; ela com o vestido acima do umbigo e a calcinha cor-de-rosa à mostra pra quem quisesse ver.
Foi tudo muito rápido, claro, mas lembro de levantar ouvindo um grupo de homens que bebiam na esquina perguntarem se estávamos bem e se precisávamos de ajuda. Agradeci aos gritos enquanto a encarava. “Eu vou te matar”, dizia ela, enfurecida, mas com total ciência da graça da cena. Por fim, deixei-a em sua casa e ainda rimos muito do ocorrido enquanto ela fazia um curativo em minha mão. Dei-lhe um beijo de despedida/desculpas/agradecimento e fui embora, dirigindo pela 23 de maio, enquanto ria.
Ao chegar em casa, mandei uma mensagem avisando que havia chegado e escrevi o primeiro e talvez único comentário que me veio à cabeça: “oficialmente, você é um patrimônio da humanidade e acabou de ser tombado! Beijos”. Passados tantos anos, acho a mensagem infinitamente pior que o tombo.
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