Entrevista Igor Pires – 27ª Bienal do livro de SP


A 27ª Bienal Internacional do livro de SP foi de 6 de setembro até o dia 15 de setembro e já deixou saudades.

Segundo a organização foram mais de 722 mil apaixonados por livros que passaram por lá. Foram 683 autores nacionais e 33 internacionais.

Um dos destaques, com o quinto livro mais vendido no primeiro final de semana, foi o autor Igor Pires.

 

Estivemos com o Igor Pires, escritor e autor de Esse é um corpo que cai, mas continua dançando. Vamos lá: O que você aprendeu com seus cinco livros anteriores, que mais contribui para a qualidade desse novo livro?

Esse novo livro encapsula muito do amadurecimento da minha escrita. Estou chegando próximo aos 30 anos e Esse é um corpo que cai, mas continua dançando é uma síntese do que foram esses últimos dez anos. Um livro que fala da transição para a vida adulta e de quando você precisa sair de casa e conquistar o mundo. Quando somos adolescentes temos muitas perguntas, mas quando nos tornamos adultos nos damos conta de que talvez essas respostas não sejam tão fáceis ou tão prontas, então temos que aprender a conviver com esse fato; talvez não procurar as respostas, mas aprender a buscar alternativas às respostas que não temos. Claro, isso é uma perspectiva de alguém como eu, que se questiona muito, mas meus outros livros eram muito focados em amor românticos e relações interpessoais; nesse temos muito mais do meu amadurecimento e de entender que a jornada e tão importante quanto o destino. Falo disso com minha terapeuta, pois eu me questiono muito sobre como será meu futuro e acabo deixando de aproveitar o presente e até o futuro que ainda nem existe; por isso, posso dizer que é um livro mais maduro, mas obviamente todos os anteriores foram fundamentais para que hoje pudesse escrever essas histórias. 

Do momento em que você começou a concebê-lo até o momento em que você o pegou impresso e pronto para ser divulgado, quanto tempo durou esse processo? 

Foram dois anos, mas eu diria que a escrita é um lugar muito transitório, efêmero; por exemplo, há textos nesse livro que eu já havia escrito há muitos anos, mas estavam inacabados. Alguns tinham só a ideia, outras uma frase, porque eu anotado tudo, seja num bloco de notas, computador ou anotações do celular; então estou sempre me revisitando. Para falar de temporalidade, foram dois anos, incluindo 11 revisões, mas eu fui indo e voltando o tempo inteiro; há textos, por exemplo, de 2017; então pra mim foi meio que um fechamento de ciclo, desse Igor de 29 anos, com textos feitos sob a minha perspectiva atual, com textos que foram escritos nos últimos dez anos. Costumo dizer que um texto, um poema não são apenas uma ideia, eles refletem fragmentos, então posso dizer que, na prática, esse livro tem muito mais que dois anos. 

Você tem alguma obra literária, cinematográfica, teatral…; que te inspira?

Sou muito apaixonado por música, cinema e fotografia, mas no momento estou assistindo a uma série, não sei se você conhece, chama The Bear, que me comove muito porque fala bastante de trabalho, de humanidade, ainda mais nesses tempos de inteligência artificial e novas tecnologias, a série faz um resgate, uma chamada para olharmos para a vida com olhares mais humanos. Pode ser um clichê, mas acho necessário. Estava até comentando com meu namorado, sobre a 3ª temporada, que ele falou “não está acontecendo nada”, e eu achei que isso era intencional, pois a vida também é assim, às vezes você apenas acorda, vai para o trabalho volta para casa.,. É nisso que a série que me inspira: a olhar para o nosso cotidiano com olhares mais mágicos mesmo! Vir à bienal, estar aqui com vocês, com meus leitores, já é uma honra e um privilégio, porque parto da premissa que é o nosso cotidiano, olhar para outro com mais sensibilidade, valorizar o ser e não o ter. 

Falando sobre o título do seu livro, ele é bastante chamativo e lembra, claro, o título brasileiro de Um Corpo que cai, clássico thriller do Hithcock. Foi proposital ou apenas coincidência? 

Acho que foi apenas uma coincidência, mas é interessante, porque o título é a parte final de um poema do meu livro passado. Cicatrizes é um livro no qual eu falo muito sobre corpo e no final eu falo “esse é um corpo que cai, mas continua dançando”. Voltando um pouco ao passado, eu tive uma questão de saúde muito séria e por alguns momentos cheguei a pensar que talvez eu não conseguisse ficar vivo, então, minha relação com meu corpo mudou, pois quando você descobre uma doença crônica, que foi o meu caso, você tem que mergulhar dentro de si mesmo e amá-lo apesar dessa constatação de que ele é finito, é limitado. Então, quando estava escrevendo e pensando no título, fui viajar para Minas Gerais e fiz uma trilha que, em determinado momento, há muitas borboletas. Parei para olhá-las e, se você reparar bem, o voo delas é cheio de “quedas”, e é bonito ver que ela cai, mas continua, de uma certa maneira, dançando; foi aí que lembrei desse trecho do poema, “esse é um corpo que cai, mas continua dançando”. 

Linda história! Pode-se dizer que há uma subversão do conceito do filme, a fim de se fazer um parelho com as dificuldades e medo que o amadurecimento traz? 

Acredito que toda artista sofre no começo na busca por uma identidade e uma linguagem próprias; então nos meus primeiros livros acho que sofri muito por não conseguir olhar para eles e entender que eu estava em processo de amadurecimento. Fui para terapia por causa disso, pois foi difícil me apoderar da palavra, me assumir como escritor ou poeta; é algo complicado, ainda mais aqui, no Brasil. Aos pouco entendi que, mesmo que eu não conseguisse ver o amadurecimento da minha escrita, isso chegava para as pessoas e era muito importante, por exemplo quando ia para sessões de autógrafos e as pessoas diziam que meu livro tinha mexido com elas. Isso me fazia querer continuar. Hoje acho que estou no auge da minha vida e da minha produção artística e consigo compreender que, embora o caminho tenha sido complexo, hoje estou confortável, seguro e orgulhoso com minha profissão. 

Sobre o processo de criação das ilustrações, a Anália Moraes teve acesso aos textos antes ou houve aquela troca frequente?

Sempre há uma troca. Eu sou uma pessoa muito perfeccionista e participo de todo o processo. Existem dois caminhos: escrever o texto e deixar todas as decisões nas mãos da editora ou você pode se comprometer com todo o processo. Eu sou do tipo que quero me comprometer com tudo: escolher, o papel, a gráfica, as ilustrações… É um filho, né? Quando escolhi a Anália lá no primeiro livro, nos conectamos muito e ela sempre lê os textos, mas eu falo para ela “olha, pensei nosso. Você concorda?”. Ela concorda ou não, e aí eu a deixo livre para sugerir e mostrar suas ideias. A capa do último, por exemplo, eu não tive nenhuma interferência. Discutimos várias possibilidades e não chegamos a nada. Um dia, ela teve um insight e chegou a esse resultado definitivo sozinha, que tanto eu quanto minha editora adoramos! Então temos essa sinergia, de ela pensar em coisas que eu não conseguiria conceber. 

Você já teve uma peça adaptada. Pensa em outras mídias? Cinema, por exemplo?

É um dos meus maiores sonhos! Quero também escrever romances, ficção… Sempre que escrevo, imagino a cena, então seria incrível. Trabalhei muito dos 20 aos 30 e espero que nessa próxima década possa ver esse trabalho em outras lugares, no cinema ou TV, por exemplo. 

Quer contar um pouquinho sobre os novos projetos?

Então, estou tentando escrever um romance sobre um casal que se encontra num lugar meio inusitado… E é sobre isso, mas minha linguagem ainda é muito poética. Estou fazendo a transição e estou gostando! Tá Interessante!

Muito sucesso pra você!

Pra gente! 

Rosana e Igor
Rosana Gutierrez – Igor Pires
Quero agradecer o jornalista Diego M. Salomão pela seleção das perguntas e a Patrícia, do blog Lendo e Escrevendo que esteve comigo durante a entrevista e enfrentou o mar de gente. Que dia, hein Pat!

 

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