Sigh no more ladies,
Sigh no more
Men were deceivers, ever
One foot in sea
And one on shore,
To one thing Constant never,
Then sigh not so,
But let them go,
And feel you blithe and bonny
Converting all your sounds of woe
Into hey, nonny nonny!
Já que março é o mês da Mulher, recebi com muito carinho (embora tenha respondido com muita lerdeza) o convite para escrever sobre alguma personagem feminina de destaque, seja de um livro ou do cinema. Parte da lerdeza, deve-se ao combo cansaço + preguiça + ressaca do Mestrado. A outra parte, à dificuldade de encontrar uma personagem sobre a qual eu quisesse escrever.
Até que se fez a luz.
Beatriz. Não a de Dante (futura modinha literária em breve, aguarde). Mas a de Benedito.
Ou, para quem não conhece, uma das personagens de Muito barulho por nada, de William Shakespeare.
Espero que vocês me permitam falar de memória, porque faz um bom tempo que eu li o livro e vi o filme. Aliás, esta texto existe basicamente por causa do filme de 1993 . Se me lembro bem (e não lembro tão bem assim) encontrei o filme na locadora e aluguei porque fiquei curiosa. E amei. Sério: amei o filme. Adorei a trama de inveja, intrigas, alegrias, sofrimentos e amor – é uma história que vai direto ao ponto.
A história se passa em Messina e trata da chegada da comitiva do Príncipe Pedro de Aragão à propriedade de Leonato, para permanecer uma temporada. Havia terminado uma guerra e agora eles queriam paz, tranquilidade e, por que não?, se dedicar ao amor. Claudio, um dos principais homens do Príncipe, estava enamorado de Hero, filha de Leonato. Só que a inveja motiva outro personagem a criar uma intriga para separá-los e é isso que move a história. É uma das comédias de Shakespeare, não tão baladada, mas é o meu xodó.
Onde entra Beatrice nesta história? Ela é prima de Hero, de temperamento bravo e combativo e parece que condenada à implicância eterna com Benedick, o outro homem-forte do Príncipe. No filme (e acho que na peça) não esclarece (na verdade, o texto se contradiz em vários momentos), mas dá a entender que é um problema antigo e muito, mas muito, mal resolvido.
BEATRICE: – O Sr. Mountanto já retornou das guerras?
MENSAGEIRO: – Desconheço este nome.
HERO: – A minha prima se refere ao Sr. Benedick de Pádua.
MENSAGEIRO: – Sim, ele voltou alegre como sempre.
BEATRICE: – Quantos homens ele matou e comeu nessas guerras? Quantos homens matou? Prometi comer todos que ele matasse.
MENSAGEIRO: – Ele é um ótimo soldado, senhorita.
BEATRICE: – Ele é um ótimo soldado para senhoritas. Ele é um lorde?
MENSAGEIRO: – Só se é um lorde quando se exibe grandes virtudes.
BEATRICE: – Na verdade, ele não passa de um exibido.
LEONATO: – Não dê atenção à minha sobrinha. Este uma animosidade entre ela e o Sr. Benedick. Não se conhecem, mas há uma hostilidade entre eles.
Este filme de 1993 tem um senhor elenco: Kenneth Branagh, Emma Thompson (na época, eles eram casados e nem sonhavam que, um dia, seriam professores do Harry Potter), Denzel Washington, Keanu Reeves, Robert Sean Leonard e apresentou Kate Beckinsale (embora eu só descobri isso muuuitos anos depois). Aqui começou a minha tietagem pela Emma Thompson, porque ela é a Beatrice, que destila semtimento nos diálogos que transitam entre amor, sarcasmo, termura e uma solidão que me deixou fascinada pela personagem, que rouba a cena fácil, fácil.
BEATRICE: – Ainda está falando, Sr. Benedick? Ninguém o detém.
BENEDICK: – O quê, minha querida lady Desdém? Ainda está viva?
BEATRICE: – é possível falar em desdém diante de tanta hospitalidade? A cortesia transformou-se em desprezo na sua presença?
BENEDICK: – então não é cortesia. Sou amado por todas as jovens, exceto por você. E, apesar de não ter um coração duro, não amo nenhuma delas.
BEATRICE: – Sorte das mulheres. Estariam perdidas com tal pretendente. Agradeço a Deus por ser como você neste aspecto. Prefiro meu cão latindo a um homem me declarando amor.
BENEDICK: – Que Deus a mantenha assim… E os homens escaparão de ter o rosto arranhado.
BEATRICE: – Um rosto arranhado não ficaria pior que o seu.
BENEDICK: – Você é mesmo um papagaio.
BEATRICE: – Antes um pássaro que uma fera.
BENEDICK: – Queria um cavalo veloz como sua língua! Oh, meu Deus, já basta!
BEATRICE: – Você sempre termina assim. Eu o conheço bem.
Não tenho evidências e, muito menos, conhecimento profundo sobre a obra de Shakespeare, portanto estou apenas tietandominhapersonagemfavorita especulando: ela e Benedick puxam a história para a comédia, enquanto a trama de Hero e Claudio é o drama. No entanto, acho que Beatrice era a favorita do autor, porque ele caprichou nos diálogos onde ela está envolvida:
BEATRICE: – Senhor, eu não suportaria um marido com barba. Prefiro deitar na lã.
LEONATO: – Pode ter um marido sem barba.
BEATRICE: – Para que? Vesti-lo como eu e torná-lo minha criada? O que tem barba é jovem, e o que não tem, não é homem. O que é jovem não é para mim, e o que não é homem não me interessa.
Antonio: – ela carrega uma maldição;
Leonato – você irá para o inferno?.
Beatrice: – Não, só até o portão. E lã, quando o diabo me encontrar, com aquele seus chifres, dirá “Vá para o céu, Beatrice. Aqui não é lugar para solteironas”. Então, no céu, São Pedro vai me mostrar onde estão os solteiros e, lã, nõs viveremos felizes para sempre.
E durante a permanência da comitiva do príncipe em Messina, muita coisa vai virar a vida de Beatrice do avesso. A principal delas é justamente algo que ela manifestou aos quatro cantos não querer:
LEONATO: – Bem, sobrinha, espero vê-la um dia com um marido.
BEATRICE: – Não enquanto Deus fizer os homens com barro.
Tanta animosidade com Benedick e disposição para o celibato atraem a atenção de Dom Pedro, que está interessado em roubar as asas e o arco de cupido e orquestrar casamentos.
BEATRICE: – Bom Deus, que união! Todos seguem pelo mundo, mas eu estou queimada pelo sol. Posso sentar num canto e implorar por um marido.
DOM PEDRO: – Lady Beatrice, eu lhe darei um.
BEATRICE: – Preferia que o seu pai me arrumasse um. Tem um irmão como o senhor? Seu pai tem ótimos maridos para as donzelas.
DOM PEDRO: – Não quer a mim, lady?
BEATRICE: – Não, meu senhor. A menos que eu tenha outro para dias de semana. Sua Alteza é muito bom para usar todo dia.
(pausa para tietagem: EU AMO ESSA CENA! Sem contar que volta e meia, penso nessa última frase dela, lendo algum livro onde o protagonista é tão bom que só pode ser ficção!)
Pois é, depois dessa, lógico que o príncipe decide ajudar e escolhe o mais improvável dos maridos para Beatrice: sim, Benedick. A estratégia para fazer um gostar do outro é ótima (e rende duas cenas muito, mas muito hilárias). No entanto, a intriga também os atinge e eles terão que comprar uma briga pelos parentes que acaba interferindo no que há entre eles… Não posso dar mais detalhes, porque o divertido é descobrir as particularidades desta história de Shakespeare. Pode não ser tão badalada quanto as obras mais conhecidas do autor, mas quando você vê uma personagem ambientada no Renascimento Italiando dizendo isso:
LEONATO: – Quando criará juízo, minha sobrinha?
BEATRICE: – Quando nevar no verão.
E isso:
BEATRICE: – É dever da minha prima fazer reverência e dizer: “Pai, como desejar”. Mas, ainda assim, prima, ele que seja um sujeito nobre ou faça outra referência e diga: “pai, como eu desejar”.
Não tem como não se encantar e respeitar, né?
Bacci!!!
Beta
Literatura de Mulherzinha
ps.: A propósito, Muito Barulho por Nada, ganhou uma versão moderna do diretor Joss Whedon, que estreia neste ano
Beta – Literatura de Mulherzinha @bluebeta
Ah eu nao gostei muito nao, nao me chamou nenhum pouco atenção ‘-‘
Elenco de peso mesmo!
Quero ver as 2 versões do filme, 😉
Não conhecia nem o livro nem o filme.
Acheo o post interessante e vou pesquisar mais sobre o livro e o filme!!