Smile!
Sinceramente, não me lembro de estar sorrindo ao final da sessão de Joker, filme pelo qual aguardei durante tantos anos – acho que desde que Jack Nicholson deu vida ao palhaço, em 1989. Na verdade, minha sensação não se assemelhou à que tive em qualquer das vezes em que vi o vilão nas telas; nem com Nicholson, nem com Ledger, nem com o ridiculamente encantador Cesar Romero e, obviamente, nem com Jared Leto em Esquadrão Suicida. Sim, todos esses apareceram em filmes de heróis e é compreensível que quem tenha ido ao cinema ver a mais nova representação do Coringa seja um entusiasta desse universo. Pois muito bem, esqueçam os heróis! Joker – ou Coringa – é um drama denso, sombrio, alegórico e angustiante sobre a falência mental de um cidadão comum, massacrado por uma sociedade à beira de um colapso; sem, no entanto, trata-lo apenas como vítima. Ele é fruto desse caos, sim, mas também um catalisador do mesmo.
Um estudo social e de personalidade polêmico, como se vê, que detinha todos os ingredientes para cair na mesmice, mas foi contornado por um roteiro verdadeiramente dramático e a atuação magistral de Joaquim Phoenix. A história, apesar de grande originalidade, traz elementos da HQ A Piada Mortal, sobre a origem do vilão, que se encontram a outros tirados de dois célebres filmes da galeria de Robert de Niro: Taxidriver e O Rei da Comédia. Coincidentemente – ou não – de Niro aparece como principal coadjuvante de Joker, na pele de um popular e bem-humorado apresentador de TV.
Outra referência – essa escancarada – foi o cineasta Charlie Chaplin. Autor da música-tema, Smile, Chaplin foi também um dos precursores do Clown no cinema, fazendo humor sem a caracterização típica dos palhaços, mas através de gestos e movimentos atrapalhados. Foi, aliás, durante uma exibição de um clássico de Chaplin que se deu o encontro entre o futuro Coringa e o poderoso empresário Thomas Wayne, pai de vocês-sabem-quem. Vale ressaltar, sobre esse encontro, que a história criada para Batman (1989) não foi retomada e o protagonista não foi aqui responsável pela morte dos pais de seu inimigo. Na verdade, se formos comparar esse Coringa com algum dos antecessores, penso que a comparação mais adequada seja com Heath Ledger em O Cavaleiro das Trevas. Por mais que Ledger não tenha tido a obrigação de mergulhar na origem do personagem, e esse já estivesse completamente seguro de suas ações, é notório que Phoenix abraçou os discursos que ele fazia sobre loucura, caos, medo e anarquia, para que seu Arthur Fleck se transformasse em Coringa! Inclusive, a anarquia tão mencionada por Ledger em Cavaleiro das Trevas, e tão utilizada por Phoenix em Joker serve como lembrete para quem já está colocando a briga direita x esquerda nas críticas, não muito inteligentes, sobre o filme.
Por fim, o diretor Todd Phillips, que ganhou fama mundial com a comédia Se beber, não case, chegou ao seu auge. Um filme dramático, ágil, divertido, fantasioso, realista, angustiante, e que consegue nos fazer ver no tão famoso palhaço do crime um ser-humano.
Joker (2019)
Elenco
Joaquin Phoenix, Robert De Niro, Zazie Beetz, Frances Conroy, Brett Cullen e outros.
Direção
Todd Phillips
Sinopse
Não recomendado para menores de 16 anos
Arthur Fleck (Joaquin Phoenix) trabalha como palhaço para uma agência de talentos e, toda semana, precisa comparecer a uma agente social, devido aos seus conhecidos problemas mentais. Após ser demitido, Fleck reage mal à gozação de três homens em pleno metrô e os mata. Os assassinatos iniciam um movimento popular contra a elite de Gotham City, da qual Thomas Wayne (Brett Cullen) é seu maior representante.
Bom divertimento
Está aí um filme que eu vou tentar assistir no cinema.
Gosto muito do Joker e estou ansiosa para ver essa interpretação dele!
Abraços
Camis