Há muitos anos, no início do século – só pra aumentar o suspense – em minha trajetória de quase-cinéfilo, comecei a assistir duas das franquias mais bem sucedidas da história do cinema. Uma eu interrompi por pura preguiça; a outra, depois de uma decepção com o segundo e tão aguardado filme. Anos depois, motivado pelo trabalho de escrever sobre cinema, decidi dar a Harry Potter e Piratas do Caribe uma segunda chance, e aqui vim para contar a experiência!
Começando com Harry Potter, digo de antemão que não li os livros, o que de certa maneira ajuda na análise, pois evita a comparação entre duas mídias tão diferentes. Sobre os filmes, posso falar apenas: uau! Como em toda e qualquer história tão grandiosa, é fácil para o espectador se perder no roteiro e ter dúvidas sobre o que já foi ou não revelado. Nada, absolutamente nada que estrague o que foi feito. O timing perfeito é mostrado em vários momentos dos oito filmes; desde os problemas da infância sendo gradualmente substituídos por crises da adolescência; até o apoteótico reencontro entre Harry e o vilão Voldemort, na metade exata da saga, indicando que o protagonista não era e nem poderia mais se dar ao luxo de ser uma criança.
Outro ponto positivo, em minha opinião, foi a frequente subversão de alguns estereótipos de personagens; tal tática teve como símbolo máximo o professor Severo Snape, brilhantemente interpretado por Alan Rickman. Sombrio, misterioso, agressivo com seus alunos e com claros problemas com Harry em especial, ele foi a personificação da vilania durante 7,5 filmes, para então ressurgir como um homem de infindáveis qualidades em uma belíssima reviravolta do roteiro, que fez com que o oitavo longa se tornasse o meu favorito.
Buscando inspiração no Castelo Rá-tim-bum ou nas obras do escritor Neil Gaiman, como já se andou dizendo por aí, o fato é: Harry Potter é uma obra de ficção infanto-juvenil que encanta, envolve, emociona e gera tamanha curiosidade que assisti inclusive aos dois filmes do spin-off Animais Fantásticos. Gostei, até por eles darem o espaço que às vezes faltou, por exemplo, para os magos de outros países, ou até para as outras duas casas da Escola Hogwarts.
De fato, arrependo-me de não ter dado a devida atenção ao mundo de Harry Potter quando ele se iniciou no cinema, lá no começo dos anos 2000. Na mesma época, porém – em 2003, pra ser preciso – fui ao cinema ver o primeiro Piratas do Caribe. “Nossa, que filme!!! Que filme”, dizia para mim mesmo e para os meus amigos ao fim da sessão. Aguardei ansiosamente durante meses, até que ele chegasse à locadora. Aguardei durante três longos anos, para que sua sequência chegasse aos cinemas, e fiz questão de ir com o mesmo amigo do primeiro filme… “Que bosta!”.
Fazendo justiça, depois de revê-lo recentemente, nem acho que ele seja tão ruim, mas certamente ficou muito aquém do que aguardei durante aqueles três anos. E já que estamos nessa de justiça histórico-cinematográfica e os magos mereceram uma chance, por que não também os piratas? Já estávamos no quinto filme, mas vamos lá! O 3º, de fato, me agradou bem mais que o 2º; o 4º é absolutamente entediante – mesmo que assim como seu antecessor tenha a tão aguardada participação do guitarrista Keith Richards – e o 5º, embora relativamente chato, explora de maneira divertida o passado de Jack Sparrow, que é com certeza um dos maiores papéis da vida de Johnny Depp. Ele que jamais viveria um pai de família, vendedor de seguros e morador do subúrbio de Chicago, encaixou-se como ninguém na pele do sarcástico e beberrão pirata, que sempre se dá bem no final. Nada contra! Ele é, de fato, o personagem mais carismático e importante da franquia Apenas senti que, com exceção do 1º e do 3º filme, os outros funcionam apenas como palanques para suas piadas; excelentes na maioria das vezes, mas pouco para um filme de 2,5 horas, não é mesmo? E se Johnny Depp cumprir a promessa de abandonar a franquia, esperamos que a Disney tenha o bom senso de encerrá-la de vez.
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