Parasita #filme


Coréia (do Sul) arrebentando nos EUA!

Segundo levantamento recente, o inglês é o idioma falado em cerca de 85% da produção cinematográfica mundial. Tal número não apenas reafirma a necessidade de premiações que contemplem produções de fora dos estúdios de Hollywood, como também dá a dimensão da importância do feito realizado por esses “forasteiros” que chegam pleiteando para si as disputadíssimas estatuetas. Cidade de Deus, A vida é bela, dentre outros, até chegarmos ao sul-coreano Parasita! Sujo, perturbador, intrigante, original, surpreendente, violento e questionador, o filme do diretor e roteirista Bong Joon-ho veio para ser lembrado como um dos grandes entre os tais 15% de outros idiomas.

Casa criada na ficção, pelo arquiteto Namgoong Hyeonja. O projeto, na realidade, é do cenógrafo do filme, Lee Ha Jun

Pense em duas famílias: uma muito rica, e outra muito pobre, diferenças essas acentuadas pelos tamanhos e localizações de suas residências, cheiros frequentemente mencionados de forma inocente pelas crianças, mas pejorativa pelos adultos; mas principalmente pelas percepções de mundo de ambas. A família humilde deseja, obviamente, ascender; porém, tomada pela ambição, perde os limites entre a busca pela justiça social e a criminalidade. Vale ressaltar, no entanto, que o roteiro e a direção sabiamente não tratam todos os seus integrantes de maneira uniforme, como se fossem braços de uma mesma criatura. Cada um tem seus questionamentos, seus valores, seus métodos e seus limites éticos, que em vários momentos se tornam conflitantes, mesmo com o objetivo comum de parasitar pessoas em melhores condições financeiras. Essas, no caso, não são legalmente responsáveis pelas mazelas que assolam o país, mas em nenhum momento foram capazes de olhar para fora dos muros de sua mansão, ou até para dentro dela. Sua indiferença social não tem nada de maldade, mas acabou por se transformar, sim, em uma perigosíssima ingenuidade, que não apenas colocou suas vidas em risco, como alimentou o ódio de quem estava por perto.

Parasita é não apenas um grande filme, mas um riquíssimo estudo sociológico, onde talvez não haja mocinhos, mas em que pessoas normais podem, sim, tornarem-se verdadeiros vilões da vida real mediante suas necessidades. Sob esse aspecto, a grande interpretação do filme foi da atriz Park So-dam, mentora intelectual do plano parasitário e, na minha visão, a menos afetada por conflitos éticos. Seu único resquício de sentimento apareceu quando a água, literalmente, bateu em sua bunda, mostrando o tal lado “sujo” do filme e evidenciando ainda mais as diferenças entre as vidas das duas famílias. Outro que merece destaque é Song Kang-ho, que interpreta o pai da garota e praticamente não precisa de falas para se fazer entender. Aliás, toda a linguagem corporal de seu personagem parece ser um símbolo do título do filme; a cada corrida discreta, cada fuga, a cada sumiço na escuridão, a palavra “parasita” vem à nossa mente.

Ficha técnica, sinopse

Direção

Bong Joon Ho

Elenco

Song Kang-Ho, Woo-sik Choi, Park So-Dam entre outros

Sinopse

Não recomendado para menores de 16 anosToda a família de Ki-taek está desempregada, vivendo num porão sujo e apertado. Uma obra do acaso faz com que o filho adolescente da família comece a dar aulas de inglês à garota de uma família rica. Fascinados com a vida luxuosa destas pessoas, pai, mãe, filho e filha bolam um plano para se infiltrarem também na família burguesa, um a um. No entanto, os segredos e mentiras necessários à ascensão social custarão caro a todos.

Bom divertimento

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