Elvis


Cinebiografias de rockstars parecem ser a nova e milionária tendência em Hollywood, como exemplificado pelos sucessos recentes envolvendo a banda Queen e o cantor Elton John; e não era de se estranhar que mais ora, menos ora, as mãozinhas e olhares de algum diretor fossem se debruçar sobre a triste e fascinante história do “Rei do Rock”, Elvis Presley!

Loirinho cheio de imaginação e fascinado com a música negra que se ouvia no sul dos Estados Unidos durante a década de quarenta, não demorou até que o pequeno Elvis crescesse e, nas palavras de seu futuro agente, descobrisse que, assim como os super-heróis de suas histórias, ele também tinha superpoderes. Dono de uma voz única, capaz romper as barreiras raciais, e com uma sensualidade e carisma jamais vistos antes sobre um palco, ele logo se tornaria o maior astro do ainda jovem rock ‘n roll. Seu problema, no entanto, foi justamente o responsável por descobrir tamanho potencial.   

Não há como negar que o coronel Tom Parker foi um gênio do marketing e, de maneiras quase sempre desprezíveis, foi muito responsável pelo sucesso de Elvis; entretanto, o que o filme de Baz Luhrmann mostrou com clareza foi o quanto os métodos do coronel foram vis e o quanto também prejudicaram a carreira do cantor.

Muitos podem estar lendo e traçando um paralelo mental com a cinebiografia de Elton John, que também retrata o empresário do músico como grande vilão, mas penso que a comparação não cabe por alguns fatores. Um deles, óbvio, é que empresários canalhas são um clichê (não apenas no rock); outro é que no caso de Elton, houve um “final feliz”, longe de quem o havia feito tão mal. Além do quê, diferente de John Reid, figurinha carimbada na indústria fonográfica dos anos setenta, o Coronel Parker tinha apenas Elvis como alvo, o que tornava suas ações invisíveis ou irrelevantes a qualquer um que não fosse o cantor.

Na verdade, e lembrando que o Coronel é o narrador da história, tendo a concordar com um crítico de cinema e dizer que a comparação mais adequada que se pode fazer é com Amadeus, filme-biografia de Mozart e narrado por Antonio Salieri, compositor invejoso e com muito menos talento, que jogou (muito) sujo para desbancar o suposto e genial rival. Tanto Salieri quanto o Coronel Tom Parker tiveram seus destinos cruzados com lendas da música e, do ponto de vista cinematográfico, serviram apenas para contar as histórias dessas lendas.

 Falando em contar a história, cabe dizer que Baz Luhrmann é o mesmo diretor de Moulin Rouge e da versão mais recente de O Grande Gatsby, filmes de que eu particularmente gosto, mas nos quais percebo que a narrativa foi prejudicada por excessos criativos de seu diretor. Sabe aquelas cenas muito mais bonitas do que propriamente úteis à história que está sendo contada? Então, e, em minha humilde opinião, Elvis – especialmente no início – sofre com esse problema. Uma obra deslumbrante do ponto de vista estético, mas com narrativa atropelada.

E, por fim, eu falei sobre a história, sobre o formato narrativo, fiz comparações, falei sobre a direção, mas e sobre as atuações? Austin Butler (confesso, não o conhecia) agarrou sua grande chance e não decepcionou em nada. Aliado a um excelente trabalho de cabelo e maquiagem, ele entregou um Elvis absolutamente crível; espetacular, performático, mas também humano, frágil, vivendo a felicidade do estrelato e também a tristeza de seu melancólico fim – vale ressaltar, ele também cantou!

Já Tom Hanks, velho conhecido do público, dispensa apresentações, mas, sempre habituado a fazer “caras legais”, encarou o desafio e fez a pior versão possível do Coronel. Um homem tão desprezível, sórdido e absolutamente verdadeiro e humanizado que não foi difícil querer quebrar a televisão várias vezes durante o filme. Não me surpreenderia se ambos ganhassem prêmios, como Melhor Ator e Coadjuvante.

Elvis é um filmaço para quem ama rock, ama cinema e ama bons dramas da vida real. Uma viagem pela fascinante jornada do Rei do Rock, que se despiu para o público, mostrando suas fraquezas e o quanto elas foram bem manipuladas, levando-o à morte prematura, aos 42 anos de idade.

Elvis

Direção: Baz Luhrmann

Roteiro: Baz Luhrmann, Sam Bromell, Craig Pearce e Jeremy Doner

Elenco: Austin Butler, Tom Hanks, Chaydon Jay, Olivia DeJonge, Yola Quartey, Kelvin Harrison Jr.

24 de junho de 2022 nos cinemas

2h 39min

Biografia, Drama musical

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