Um destacamento cheio de destaques!
A Guerra do Vietnã é, depois das duas guerras mundiais, o mais importante conflito bélico do século XX e, não por acaso, foi amplamente destacada no cinema, tanto através de obras fictícias quanto em documentários. Parecia não haver mais uma abordagem que fugisse às fórmulas já utilizadas até que o diretor Spike Lee trouxe uma nova visão sobre o assunto com Destacamento Blood. É verdade que o filme ganhou ainda mais notoriedade por ser o último trabalho de Chadwick Boseman, morto em agosto deste ano aos 43 anos, em virtude de um câncer, mas creditar o sucesso da produção a essa tragédia é um desrespeito com sua riqueza narrativa e em tantos outros aspectos.
Para começar, é importante que se diga que a luta do diretor pela representatividade negra no cinema não deveria ser, de forma alguma, motivo para espantar o público; pelo contrário, a causa, mais do que justa, é necessária, e poderia ser jogada por água abaixo caso fosse apresentada em um filme ruim. Felizmente não é o caso. A história de quatro amigos negros que retornam ao Vietnã depois de quase 50 anos para procurar um tesouro deixado por um amigo morto em combate é recheada de humor, entusiasmo e uma deliciosa nostalgia, mas ganha contornos dramáticos à medida que traumas e segredos começam a vir à tona. Um roteiro interessante, mas delicado, que poderia ser arruinado nas mãos de um diretor sem a sensibilidade necessária ou um elenco que não comprasse a ideia. Sobre esse, aliás, o maior destaque é para Delroy Lindo, na pele do atormentado Paul. Em seu derradeiro trabalho, Chadwick Boseman, mais uma vez, convenceu como o heroico “Stormin” Norman, que, após sua morte, tornou-se uma espécie de messias para seus companheiros.
Sim, como já deve estar claro para quem não viu, o filme recorre – e muito! – ao batido recurso dos flashbacks para contar a história, mas com uma elegância que eu raras vezes vi na tela. A interação entre Chadwick e os amigos, já velhos, em nenhum momento soa piegas ou clichê e conta de forma precisa toda a história sobre o que aconteceu ao grupo durante a guerra, como nasceu o plano de voltar ao país e até justifica o porquê de ser um elenco formado por negros. Não, não é apenas “frescura do Spike Lee”, e sim, a guerra do Vietnã escancarou ainda mais o racismo nos Estados Unidos.
Por fim, mais um grande filme de Spike Lee, que sabe trabalhar como poucos as polêmicas questões do racismo e da representatividade sem se deixar levar pelos clichês e sem perder o humor, embora aqui tenhamos uma história infinitamente mais densa e sem espaço para piadas como o premiado Infiltrado na Klan. Mesmo assim, vale cada segundo!
Destacamento Blood
Da 5 Blood
Direção e roteiro Spike Lee
Elenco Delroy Lindo, Jonathan Majors, Clarke Peters, Norm Lewis,Isiah Whitlock Jr., Mélanie Thierry, Paul Walter Hauser e outros.
Distribuição Netflix
Ano 2020
Sinopse
durante a Guerra do Vietnã, um esquadrão de soldados negros do Exército dos Estados Unidos, que se autodenominam Bloods, protege o local de um acidente de avião da CIA e recupera sua carga, um recipiente com barras de ouro destinadas ao pagamento do povo Lahu por sua ajuda na luta contra os vietcongues. O esquadrão decide pegar o ouro para si, enterrando o precioso metal para recuperá-lo mais tarde. Contudo, um contra-ataque vietnamita impossibilita a localização do ouro enterrado, após uma explosão de napalm obliterar todos os marcos de identificação. Nos dias de hoje, graças a um deslizamento de terra, os Bloods, já veteranos, rastreiam o local onde o ouro está, tentando reaver a recompensa e o corpo de seu ex-líder que morreu durante o ataque vietnamita.
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