TEM SPOILER!!
O cinema foi com certeza um dos campos mais afetados pelo caos dos últimos dois anos e coube a Homem-Aranha: Sem Volta para Casa fazer a primeira bilheteria bilionária desde 2019. O que muitos podem se perguntar é por que diabos alguém sai de casa – ainda mais nessas circunstâncias – pra ver um filme sobre um personagem que já teve um zilhão de adaptações pras telonas? Aliás, o que esse filme poderia trazer de diferente dos outros?
Pois o fato é que, acreditem ou não, trouxe. Diferente de outras produções do gênero com muito marketing pra pouco conteúdo, a nova aventura do aracnídeo é o maior presente que os fãs poderiam querer. Tem história que prende? Tem. Tem outros heróis? Tem! Tem participações de versões anteriores do Aranha? Tem! Tem introdução de personagem queridinho dos fãs da Marvel? Tem! Tem redenção? Tem! Tem vilão marcante? Cinco! E tudo isso coube em apenas 2,5 horas de filme? Sim!
É fato que um dos grandes segredos do sucesso da Marvel é concatenar todas as histórias e amarrar as pontas soltas; o que é um feito extraordinário quando se pensa na quantidade obscena de heróis em suas histórias. Evidentemente, quando tudo gira em torno de apenas um deles tudo fica mais simples, mas o roteiro de Chris McKenna e Erik Sommers tomou a decisão perigosa de optar pelo caminho mais difícil.
Quando Peter Parker viu sua vida desabar por acusações falsas, perseguição da imprensa e até ameaças públicas, entraram em cena o advogado Matt Murdock – identidade secreta do Demolidor – e um feitiço do Doutor Estranho, que acabou atravessando as barreiras do multiverso, trazendo não apenas os dois Homem-Aranha de franquias anteriores, como seus inimigos! Podia ter sido um desastre? Podia, mas a direção precisa de Jon Watts, auxiliada pela enxurrada de elementos e referências que os fãs amam, transformaram Homem-Aranha: Sem volta pra Casa na melhor aventura do herói já feita.
Como não se emocionar com o encontro entre os três Aranhas? Tom Holland, Andrew Garfield e Tobey Maguire formaram a versão dos super-heróis de Leonard Nimoy e Zachary Quinto – quem não entendeu, joga no Google! Aliás, falando nos atores, que me perdoem os saudosistas de Tobey Maguire – o mais antigo dos três – mas a diferença de qualidade entre os atores é absurda, com Tom Holland, ainda um menino, mostrando evolução estarrecedora desde sua primeira aparição com o personagem.
Dentre os vilões, no entanto, creio que não haja muita discussão. Com o devido respeito a Alfred Molina e Jamie Foxx, mas Willem Dafoe realmente mostrou outro patamar de atuação, inclusive melhorando seu icônico papel no filme de 2002.
Homem-Aranha: Sem Volta pra Casa é um filmaço, que prova que ainda há muitas formas de se reinventar o gênero, sem necessariamente apelar para as possibilidades mais abrangentes das animações, como fizeram no ótimo Aranhaverso, de 2018.
“Então, você achou perfeito? Melhor filme de heróis já feito? Melhor do Universo Marvel”? Não. Realmente, gostei muito do que vi, mas houve pequenas coisas que me incomodaram. Primeiro, o Demolidor, cuja única função foi comunicar o fim das acusações contra Peter e se vangloriar de seus feitos. Não que isso tenha me incomodado, mas como se conheceram? Como ele demoliu as acusações, com o perdão do trocadilho horroroso? Adorei a cena, mas cabiam dois minutinhos a mais de filme pra que ela não ficasse tão jogada na história.
“Nossa, mas tudo tem que ser explicadinho pra você?”. Não. Gostei muito, por exemplo, da brincadeira que não explica por que Tobey Maguire produz as teias pelos pulsos, enquanto seus sucessores têm que fabricá-las. É uma dúvida? Sim. Tem resposta? Provavelmente não; então o que fez o roteiro? Estendeu a dúvida para os personagens e criou uma cena divertida. Ótima saca!
No entanto, a segunda e mais importante observação foi o final. Gostei do Aranha solitário, mais maduro, patrulhando sozinho e longe da grandiosidade dos Vingadores. Achei uma volta às origens muito interessante, e no contexto do filme até a morte da Tia May pareceu adequada, mas que raio de feitiço do Doutor Estranho foi aquele? “Todos vão esquecer que Peter Parker existe”. Ok, mas e os crimes pelos quais Parker (enquanto Homem-Aranha) foi acusado? Foram esquecidos junto?
Dessa forma faz sentido, já que, do contrário, nosso herói seria apenas um sem-teto com uma multidão querendo espanca-lo a cada aparição pública. Ficou esquisito, mas deve ser só chatice minha. O filme é bom, sim, e marca o retorno das mega-bilheterias do cinema com toda a justiça.
Homem-Aranha: Sem Volta para Casa
Direção: Jon Watts
Roteiro: Chris McKenna; Erik Sommers
Elenco: Tom Holland, Andrew Garfield, Tobey Maguire, Zendaya, Benedict Cumberbatch, Marisa Tomei, Willem Dafoe, Alfred Molina, Jamie Foxx, J. K. Simmons…
16 de dezembro de 2021 no cinema
2h 28min
Ação/Super-heróis
Sinopse
Não recomendado para menores de 12 anos
Em Homem-Aranha: Sem Volta para Casa, Peter Parker (Tom Holland) precisará lidar com as consequências da sua identidade como o herói mais querido do mundo após ter sido revelada pela reportagem do Clarim Diário, com uma gravação feita por Mysterio (Jake Gyllenhaal) no filme anterior. Incapaz de separar sua vida normal das aventuras de ser um super-herói, além de ter sua reputação arruinada por acharem que foi ele quem matou Mysterio e pondo em risco seus entes mais queridos, Parker pede ao Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch) para que todos esqueçam sua verdadeira identidade. Entretanto, o feitiço não sai como planejado e a situação torna-se ainda mais perigosa quando vilões de outras versões de Homem-Aranha de outro universos acabam indo para seu mundo. Agora, Peter não só deter vilões de suas outras versões e fazer com que eles voltem para seu universo original, mas também aprender que, com grandes poderes vem grandes responsabilidades como herói.
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