BASTIDORES LITERÁRIOS – VOCÊ DEVE OU NÃO MONTAR SUA EDITORA?


Por Gianpaolo Celli, consultor do ALITERAÇÃO SERVIÇOS EDITORIAIS

Este foi um assunto que chegou de modo bem interessante. Isso, pois exatamente quando eu estava comentando a respeito com outros profissionais do mercado após ter visto diversos escritores comentando em redes sociais que estavam querendo ou se preparando para montar suas editoras, uma escritora procurou o Aliteração exatamente com essa questão. Assim, achando que muita gente deve estar se questionando se deve ou não abrir uma editora, assim como saber um pouco mais a respeito das dificuldades no processo, eu resolvi falar a respeito desse tema no artigo de hoje.

Só para avisar, eu não vou discorrer a respeito de sociedades, de como abrir uma empresa ou de em que categoria você pode ou deve abrir sua empresa. FALA SÉRIO! Eu sei que o assunto é importante, e é a base da criação de qualquer negócio, mas este é um assunto por demais complexo, assim como fora de nosso objetivo aqui, que é discorrer a respeito do mercado literário/editorial.

A primeira coisa a se questionar para responder se você deve, ou não, montar sua editora é por que você quer fazer isso?

Se a resposta for simplesmente, como eu já ouvi ou li muito: “para publicar meus livros”, sinto muito, mas a resposta é FALA SÉRIO! NÃO!

Isso, pois se seu objetivo é simplesmente lançar seus livros e você está disposto a investir nisso, é melhor você simplesmente buscar uma editora já existente no mercado e tentar uma parceria. É mais simples e mais rápido.

Fora que mesmo abrindo uma editora, algo essencial para que você coloque seu livro nas livrarias, pois para que elas aceitem comercializar seu livro elas precisam de nota fiscal, coisa que uma pessoa física normalmente não tem, o fato de você ser uma editora não quer dizer que a livraria aceitará negociar com você. Muitas redes de livrarias, inclusive, nem tratam diretamente com as editoras, mas só com distribuidoras, e se você não trabalhar com nenhuma, pode esquecer.

Você pode até reclamar que a percentagem de 5 a 10% em cima do preço de capa do livro, que é paga ao escritor de Direitos Autorais, é muito baixa. Mesmo assim, é praticamente a mesma coisa que uma editora pequena ganha em cima do livro vendido. Digamos, por exemplo, que entre revisão, diagramação, capa e publicação o custo de uma tiragem de 300 exemplares saia por três mil reais. São R$ 10,00 reais por livro. Se a distribuidora fica com 60% do preço de capa, repassando 50% desse preço à livraria, sobra para você 50%. Ou seja, se o livro custar R$ 40,00 reais (caro para o livro de um escritor desconhecido), R$ 20,00 vão para a livraria, R$ 4,00 pra a distribuidora, sobrando R$ 16,00 para a editora, que depois de tirar R$ 10,00 do custo, sobram seis reais, 15% do preço total.
FALA SÉRIO! Isso sem contar que você não venderá para as livrarias ou para as distribuidoras, mas consignará para elas, normalmente a 60 ou 90 dias para cada.

Sabe o que isso quer dizer?

Quer dizer que se a livraria negociar 60 dias de pagamento com a distribuidora (o normal é 90 dias) e a distribuidora negociar 60 dias com você, um livro da sua editora vendido pela livraria hoje, em dezembro, e acertado, portanto em janeiro, será pago à distribuidora em 60 dias, em março, que acertará com a editora em 60 dias, em maio. Ou seja, quase meio ano. Assim, com o custo de dinheiro, além dos impostos pagos pela editora, sem contar custos com contabilidade nem nada assim, você terminará com um retorno de R$ 4,00 reais, 10% em cima do preço de compra, assim como o DA de um escritor. E isso sem contar que apesar de receber em meses, você terá de pagar os profissionais de revisão, diagramação e capa, assim como a gráfica que publicou o livro em dois ou três meses.

E caso você esteja pensando em não negociar através de distribuidoras, mas diretamente com as livrarias. Se você efetivamente conseguir fazer, o resultado será que, se você tiver os livros de sua editora em dez ou quinze livrarias diferentes, vai ter de controlar a negociação, a entrega, o controle da consignação, o pagamento ou a devolução quando os livros não forem vendidos de cada uma delas, todo mês. FALA SÉRIO! Simples, não?

Outra opção é não vender em livrarias, só usando site de sua editora, enviando os livros via correio. Neste caso não sei o que é pior, não conseguir vender ou ter de ir ao correio as vezes duas vezes por semana.

“Ah, mas você está sendo pessimista!”, você vai dizer.

E para essa colocação, minha resposta é: FALA SÉRIO! NÃO! Só estou sendo realista, pois minhas colocações são baseadas exatamente na editora que tive por quase sete anos. E é exatamente por causa dela, entre outras coisas, que eu só recentemente consegui terminar meu romance.

E olha que isso é só parte do trabalho. Porque se sua ideia for efetivamente criar uma editora para lançar livros que não só os seus, terá de ler originais, conversar com autores, fazer lançamentos, organizar coleções e coletâneas, controlar as vendas dos livros que sua editora lançar, o DA dos autores que publicar, recebimentos, pagamentos, provas de gráfica, distribuição…

Resumindo: É impossível? Não! Mas FALA SÉRIO! Também não é simples!

E vou dizer, apesar de ser muito gratificante ver seus livros sendo vendidos nas livrarias, sendo analisados em blogs e vlogs literários (eu comentei que você terá de falar com eles?), cada uma dessas vitórias não vem sem sua parcela de sacrifício. Atualmente, como eu mesmo já comentei aqui, é muito mais simples se utilizar de ferramentas como a publicação gratuita na Amazon e ferramentas como o Wattpad para criar leitores e conseguir fazer seu nome do que tentar montar uma editora só para publicar seu livro.

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