The Batman


“Pra quê outro filme do Batman?”. Porque a Warner e a DC sabem que o personagem vende, simples. “Mas será que após tantas versões, ainda há um jeito inovador de coloca-lo nas telas?”. Essa já é uma questão mais complexa, mas que foi vencida pela competência do diretor Matt Reeves e uma longa série de acertos que fazem de The Batman uma das melhores aventuras do homem-morcego já filmadas.

O primeiro acerto, a meu ver, foi o acordo para que seu filme ocorresse de forma independente do caótico Universo da DC no cinema. Claro que seria maravilhoso para os fãs ver esse universo crescer, mas também é inegável que ele ainda está meio bagunçado e também que o pertencimento a uma determinada franquia acaba podando a criatividade do diretor.

Outra jogada inteligente foi não recontar a história que já vimos um zilhão de vezes: o assassinato do casal Wayne, o treinamento, as primeiras aparições, a inauguração do sinal… Não! Sabemos como foi tudo isso; portanto, The Batman já começa com o herói estabelecido, conhecido, dividindo opiniões da polícia e temido pelos criminosos. Aliás, é verdade que nesse filme, o roteiro optou por trabalhar melhor o lado detetivesco do morcego – o que torna a opção pelo Charada como vilão principal a melhor possível – mas isso não faz dele uma obra com pouca ação, muito pelo contrário! Em nenhuma aparição do Batman nos cinemas as porradas são tão críveis quanto nessa.

Falando em Charada, esqueçam as versões bem-humoradas de outrora; aqui o vilão manda, sim, suas cartinhas com enigmas para o protagonista, mas ele se trata de um serial killer brilhante e cruel, que parece sempre à frente do Batman e do Comissário Gordon. De fato, as comparações que andam fazendo entre The Batman e Seven: os 7 Pecados Capitais é totalmente válida, pois no fim, esse acaba sendo o filme de super-herói mais realista já feito, flertando muito com o gênero de investigação noir – e a chuva que caía até no pôster promocional foi fundamental para essa ambientação.  

Sim, é verdade que a trilogia Cavaleiro das Trevas já era algo bem realista na medida do possível para um filme de heróis, mas também é verdade que tudo ali era “limpinho” demais. Gothan City, por exemplo, não parecia uma cidade tomada pela pobreza, corrupção, violência e descaso do poder público. Nesse sentido, Matt Reeves pegou o melhor dos dois mundos, unindo a escuridão de Tim Burton e o realismo de Christopher Nolan, com o detalhe de tê-lo potencializado, o que passou, claro, pelo protagonista e seus artefatos.

Se a armadura é, numa primeira olhada, mais simples esteticamente, ela também confere uma imponência inédita ao personagem, o que também se aplica ao batmóvel, que pode não ter um design tão inovador e diferente de um veículo comum, mas é o carro mais potente já usado pelo morcegão – lembrando que todos os batmóveis são absolutamente funcionais. Segundo Reeves, a cena em que ele aparece foi inspirada em Christine, o Carro Assassino, de 1983.

Falando especificamente do herói, em versões anteriores, Bruce Wayne foi quase sempre retratado como alguém muito bem adaptado à vida dupla e praticamente invencível quando veste a capa. Não aqui. Em seu segundo ano como vigilante mascarado, o Batman de Robert Pattinson tem dúvidas sobre o que está fazendo, falha ao seguir pistas, não faz a menor questão de chegar sorrateiramente, tem medo de altura, planeja pousos que dão errado e, principalmente, deixa que o herói tome conta. O personagem está tão imerso em sua tristeza e identidade secreta, que sequer consegue representar o papel do bilionário filantropo. Ele é o Batman mesmo quando está sem armadura.  Inclusive, colocar Nirvana na trilha sonora me chamou a atenção para o fato de que a cara entristecida e até o corte de cabelo de Pattinson fizeram-no parecer muito o saudoso Kurt Coubain. Agrada a todos? Questão de gosto, mas é inegável que se trata de uma abordagem mais realista do personagem, assim como é inegável que dentro de sua proposta, o filme foi extremamente bem-sucedido.

“Então você achou ele perfeito?”. Não, não achei. Em minha opinião, o terceiro ato foi, sim, um pouco arrastado e a mesma história caberia tranquilamente em 2,5 horas. Também achei a suposta “aparição” do Coringa absolutamente desnecessária, ao menos por enquanto.  A mim soou mais como um fan service bobo.

Sobre os atores, juro que não vou perder mais um segundo do meu tempo com quem ainda insiste em ver Robert Pattinson como “aquele menino do Crepúsculo”. Sim, ele está muito bem, como já esteve em outros filmes. Não é, pra mim, o melhor Batman, mas passa longe dos desastres de Val Kilmer e George Clooney. O mesmo vale para Zoë Cravitz como Mulher-Gato e Jeffrey Wright como Gordon; não são minhas adaptações favoritas, mas agradam. Gostei também da versão inovadora de Paul Dano para o Charada, embora, sendo justo, Jim Carrey não tenha estabelecido um alto padrão de qualidade. Aliás, nem sei se foi a intenção, mas cada respiração abafada de Dano dentro da máscara me remetia ao maior vilão da cinema  – Darth Vader, para os leigos.

O grande destaque pra mim foi Colin Farrel como Pinguim, que, a bem da verdade, é um personagem secundário na trama, mas realçado pela competência de seu intérprete. Uma versão bem diferente daquela de Danny de Vito, mas igualmente digna de aplausos. Andy Serkis, como Alfred, no entanto, não me chamou a atenção, mas creio que isso se deva mais às inevitáveis comparações com os geniais atores que já viveram o mordomo.

Por fim, The Batman é sim um dos grandes filmes do herói mais querido do cinema. Não acho que seja o melhor, nem meu favorito, mas Matt Reeves foi impecável dentro de sua proposta, que conseguiu extrair o melhor de tudo o que já se havia feito no universo do morcego e criou uma obra com assinatura própria. Relevante, honesto, envolvente e inovador.

The Batman

Direção: Matt Reeves

Roteiro: Matt Reeves, Peter Craig e Mattson Tomlin

Elenco: Robert Pattinson, Zoë Cravitz, Paul Dano, Colin Farrel, Jeffrey Wright, Andy Serkis, John Turturro.

04 de março de 2022 nos cinemas

2h 56min

Ação/Super-heróis

Sinopse

egue o segundo ano de Bruce Wayne (Robert Pattinson) como o herói de Gotham, causando medo nos corações dos criminosos da sombria cidade. Com apenas alguns aliados de confiança – Alfred Pennyworth (Andy Serkis) e o tenente James Gordon (Jeffrey Wright) – entre a rede corrupta de funcionários e figuras importantes do distrito, o vigilante solitário se estabeleceu como a única personificação da vingança entre seus concidadãos.

Durante uma de suas investigações, Bruce acaba envolvendo a si mesmo e Gordon em um jogo de gato e rato, ao investigar uma série de maquinações sádicas em uma trilha de pistas enigmáticas estabelecida pelo vilão Charada.

Quando o trabalho acaba o levando a descobrir uma onda de corrupção que envolve o nome de sua família, pondo em risco a própria integridade e as memórias que tinha sobre seu pai, Thomas Wayne, as evidências começam a chegar mais perto de casa, precisando, Batman, forjar novos relacionamentos, para assim desmascarar o culpado e fazer justiça ao abuso de poder e à corrupção que há muito tempo assola Gotham City.

Fotos: Copyright 2021 Warner Bros. Entertainment Inc. All Rights Reserved. / Jonathan Olley

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