Joias Brutas #filme #netflix


Joia bruta e rara!

Depois de assistir Uncut Gems, comecei a ler o que se estava falando sobre o filme, pensando no que escreveria neste espaço, quando me deparei com um post de uma moça dizendo que quando viu que era com o Adam Sandler, achou ser um filmão, mas se decepcionou. Ri alto. Não que eu não goste de alguns de seus filmes, sempre estigmatizados como comédias ruins, mas sejamos justos; não há na galeria do ator nenhuma primazia do pensamento ocidental e tampouco um roteiro com grandes acontecimentos. É sempre o cara bacana, meio malandro, meio bobo (e com o mesmo figurino); envolvido com uma mulher apaixonante, mas separados por um drama fofo e auxiliados por uma meia dúzia de coadjuvantes engraçadinhos e carismáticos. Às vezes funciona – por exemplo, em Click e Como se fosse a primeira vez – e às vezes é um desastre – como o recente Mistério no Mediterrâneo, que fez Agatha Christie se revirar no túmulo – mas você sempre sabe o que esperar. Pelo menos, sabia.

Uncut Gems

Em uma Nova Iorque suja, cinza e barulhenta, Sandler vive um comerciante de joias viciado em apostas, que tem a difícil missão de equacionar seus negócios, seu vício, sua desastrosa vida familiar e sua relação com a amante; um turbilhão de problemas que não nos daria a sensação de inquietude caso fosse ambientado em ruas arborizadas de bairros residenciais, ou em cenas menos tumultuadas, talvez com menos pessoas, ou menos barulho em volta. Não! Uncut Gems é caótico mesmo, a fim de nos transportar para as zonas comerciais dos grandes centros urbanos – quem é de São Paulo e já deu um giro pela Santa Efigênia certamente vai ver similaridades.

Falando em Santa Efigênia, aliás, a composição do personagem de Sandler, Howard Ratner, é absolutamente soberba, retratando fielmente o típico comerciante novo-rico, cafona na forma de se vestir e até na decoração de sua loja e do apartamento de sua amante, que pareceria ultra-moderno, fosse no início dos anos oitenta. A própria estética emporcalhada de Nova Iorque e a trilha pseudo-futurista do fim dos anos setenta fazem o filme parecer, propositadamente, fora de moda e sem glamour, o que talvez explique o desconforto de alguns ao assisti-lo.

Uncut Gems

Ratner não tem grandes relações com questões da atualidade que não passem por seus negócios. Ele é um comerciante, e aqui o judaísmo, religião de Sandler sempre citada sem importância em seus filmes, ganhou peso. O famoso tino comercial dos judeus, que tantas piadas de gosto discutível já rendeu, é parte importante da composição do personagem, sem, no entanto, desrespeitar a religião. Afinal, sendo o ator um judeu, ele deve ter se apropriado de características vistas ao longo da vida, de forma a fazer uma sátira da realidade sem que pra isso houvesse desrespeito. Pessoalmente, acho que com bastante êxito.

Pessoalmente também, entendo o lado da moça que viu o nome de um ator de que gosta e se decepcionou com o filme. Uncut Gems realmente marcou um ponto de virada na carreira de Adam Sandler. Um filme sério, denso, tenso, violento, que, no mínimo, mostrou um ator mais versátil do que conhecíamos. Sandler ficou de fora da lista dos indicados ao Oscar de Melhor Ator, e eu de fato acho que havia candidatos melhores, mas que se registre: foi a maior atuação de sua carreira, no melhor filme de sua – agora enriquecida – galeria.  

Ficha técnica, Sinopse

Direção

Benny Safdie, Josh Safdie

Elenco

Adam Sandler, Julia Fox, The Weeknd

Sinopse

Nova York, primavera de 2012. Howard Ratner (Adam Sandler) é o dono de uma loja de joias, que está repleto de dívidas. Sua grande chance em quitar a situação é através da venda de uma pedra não lapidada enviada diretamente da Etiópia, cheia de minerais preciosos. Inicialmente Howard a oferece ao astro da NBA Kevin Garnett, um de seus clientes assíduos, mas depois resolve que conseguirá faturar mais caso ela vá a leilão. Para tanto, precisa driblar seus cobradores e a própria confusão que cria a partir de suas constantes mudanças.

Distribuição- Netflix

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