Eduardo e Mônica


Nunca acreditei muito nessa ladainha de que os opostos se atraem. Pode ser assim na física, mas no amor? Sério, quais são as chances reais de uma relação entre duas pessoas que não tem nada a ver uma com a outra dar certo? Entretanto, não posso negar que a ideia é bonita e dá ainda mais força pra narrativa romântica de que o amor tudo vence, como tão bem mostrado na letra, recentemente transformada em filme, de Eduardo e Mônica.

Você não sabe quem são Eduardo e Mônica? Então, vamos lá: são os dois personagens centrais de uma música composta no início dos anos oitenta por Renato Russo (se não souber quem é Renato Russo, eu desisto). Ela, uma descolada e inteligente estudante do último ano de medicina; e ele um adolescente de alma pura e limitadíssimo conhecimento da vida. Nas palavras do autor, eles eram “nada parecidos; ela era de Leão e ele tinha 16(…) E mesmo com tudo diferente, veio meio de repente, uma vontade de se ver/E os dois se encontravam todo dia e a vontade crescia como tinha de ser”; viraram ícone do cancioneiro nacional e, não por acaso, música-tema de casais com grande diferença de idade.

Claro que o material para um filme estava pronto, mas é claro também que sempre se corria o risco de esbarrar na memória afetiva dos fãs, até porque, convenhamos, são quatro minutos de música e duas horas de longa-metragem. Felizmente, porém, a direção de René Sampaio e o roteiro adaptado por Matheus Souza, Claudia Souto, Michele Frantz, Jessica Cantal e Gabriel Bortolini foram felizes e conseguiram realizar uma obra que se mantém fiel à original e, creio, deixaria o próprio Renato Russo satisfeito.

Além deles, precisamos destacar o elenco. Gabriel Leone e Alice Braga abraçaram seus personagens com tamanha convicção e carinho que não foi difícil (ao menos para mim) comprar a ideia de que eles eram, de fato, o casal eternizado pela canção. Menção mais do que honrosa também a Victor Lamoglia, que faz o melhor amigo do protagonista e alívio cômico da trama; e ao grande Otávio Augusto, como o avô ultraconservador de Eduardo, numa das grandes sacadas do roteiro adaptado.

Explico: isso nunca iria para uma música de poucos minutos, que se focaria única e exclusivamente no casal, mas num filme de duas horas passado na capital federal do pós-ditadura, fazia muito sentido que pelo menos um dos protagonistas tivesse um parente mais velho e ainda saudosista dos militares. O choque inevitável entre Seu Bira e a prafrentex Mônica era inevitável, engrandecendo e humanizando ainda mais a trama.

Discordo veementemente de quem diz que Eduardo e Mônica é apenas para os fãs da Legião Urbana, embora não seja ingênuo de achar que quem deteste a banda possa ser comovido por um trecho já tão conhecido de sua obra; mas digo, sem medo de errar, que se Renato e em particular essa música não tivessem existido, o filme, enquanto peça original, funcionaria perfeitamente como a deliciosa comédia romântica que é.   

Eduardo e Monica

Direção: René Sampaio

Roteiro adaptado: Matheus Souza, Claudia Souto, Michele Frantz, Jessica Cantal e Gabriel Bortolini

Elenco: Alice Braga, Gabriel Leone, Victor Lamoglia, Otávio Augusto

20 de janeiro de 2022 nos cinemas

1h 54min

Romance

Sinopse

Não recomendado para menores de 14 anos

Em um dia atípico, situado em Brasília na década de 1980, uma série de coincidências leva Eduardo (Gabriel Leone) a conhecer Mônica (Alice Braga), tendo como pano de fundo uma festa estranha com gente esquisita. Uma curiosidade é despertada nos dois e, apesar de não serem parecidos, eles se apaixonam perdidamente.

Ambos são completamente diferentes. Além da discrepância de idade entre os dois, signos diferentes e cores de cabelo diferentes, eles também têm gostos que, aos olhos de outras pessoas, são incompatíveis. Parece que o amor entre os dois nunca passará apenas de alguns meses.

Depois de começarem um namoro, esse amor precisará amadurecer e aprender a superar as diferenças. Eduardo e Mônica terão também que superar o preconceito de outros que tentarão acabar com o relacionamento. Mas é aquilo: “Quem um dia irá dizer que não existe razão nas coisas feitas pelo coração”.

A comédia romântica é baseada na música homônima de Renato Russo, da banda Legião, Urbana.

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